Literatura medieval, a literatura impressa e cinema
Este artigo foi apresentado na Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Letras, na disciplina Introdução à Literatura
Por Geraldo Genetto PereiraProfessor, escritor, blogueiro, youtuber.Formação: Licenciatura e Mestre em Letras pela UFMG.
Comunicação compacta
Diferencie a literatura medieval da literatura impressa, tendo como eixo a questão da representação do mundo. A literatura medieval era transmitida por meio da voz e dos gestos, e a literatura impressa modificou estas característica, produzindo uma comunicação compacta. Apesar de que “na antiguidade, a prática comum da leitura em voz alta, para os outros ou para si mesmo, não deve ser atribuída à ausência de domínio de leitura apenas com os olhos¹”, é possível afirmar que esta prática permitia uma interatividade entre a literatura o leitor/telespectador e não a falta de capacidade de leitura silenciosa.
Na “comunicação compacta” o escritor, necessariamente, deve pensar o que vai conter o livro produzido por ele, uma vez que este será lido por alguém que não o conhece, por isso deve-se imaginar as informações que o conterá. Na literatura medieval não era necessário tal pensamento, uma vez que o espectador estava à frente do narrador e podia escutá-lo e fazer a leitura dos gestos. Na apresentação dos personagens devem constar os mínimos detalhes, tal como a roupa, as características físicas e até mesmo os costumes. No jogral, por exemplo, não há necessidade de descrição física e nem do vestuário, uma vez o telespectador está presente.
Quando se produz uma mensagem para ser apresentada em um tribunal, o escritor deve se “dobrar” a alguns conceitos gramaticais para adequar à linguagem jurídica. Isto quer dizer que para o texto funcionar, o escritor deve trabalhar com as expectativas de quem vai receber a mensagem. Assim pode-se dizer que “comunicação compacta” é sinônimo de compatibilidade de linguagem, ou seja, uma pessoa produz um texto com linguagem compatível à do magistrado.
Em suma, comunicação compacta ocorre quando existe uma linguagem comum a todos, isto é, quando não se restringi a um grupo social e, por isso, fica mais fluída. O narrador deve conhecê-los antes de emitir a comunicação, porém mantendo uma certa distancia deles para que a produção textual seja uniforme, isto é, universal. A “vantagem da literatura impressa sobre a oral (medieval) está no fato que aquela se perpetuar por séculos²”, enquanto esta sofria modificações na mensagem de geração em geração.
A literatura medieval e o cinema
A proximidade da literatura medieval com o cinema, como cita Zumthor: “a literatura medieval está mais próxima do nosso cinema do da literatura”, é devido à forma de apresentação que esta possuía nessa época, era medieval. A literatura medieval, na maioria das vezes, era transmitida por meio da oralidade. “Entre o século X e XVII, o uso dos gestos humano era uma forma de comunicação, além disso, enquanto a voz poética tendia para o canto, o gesto tendia para a dança, sua ultima realização”. (ZUMTHOR, p.245). É a liberdade de movimentos do orador, na literatura medieval, que permitiu a comparação ao cinema. “A dança acompanhou e sustentou muitas outras formas de poesia: condutos e canções de pias, litanias das rogações [...]”. (ZUMTHOR, p. 248). O conteúdo da mensagem estava além da escrita, uma vez que a comunicação por gesto a transcende. Neste sentido é viável comparar a literatura medieval ao cinema, porque cada telespectador/leitor pode formular um hipertexto a partir das cenas.
No século XX viu-se a literatura mesclar ao cinema, por meio do “vídeo-poema³”. Esta mistura de literatura e cinema nos remete à poesia medieval, em que esta se utiliza a voz e dos gestos para se comunicar com o leitor/telespectador e aquela utiliza-se da imagem e do sonidos para transmitir a poesia.
Em fim, Lopez afirma que “a obra só se completa quanto une letra, melodia, e situação[4]. Neste sentido pode-se afirmar que a literatura está além do escrito, ela incorpora em si elementos que está vinculado à expressão corporal, assim como ao cinema. Neste sentido pode-se dizer que “a literatura medieval esta mais próxima do cinema do que da literatura”.
Referências
¹ CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: UNB, 1994. Do codex à tela.
²ZUMTHOR, Paul. A letra e voz.
³ Machado, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo. Editora Brasiliense, 1997.
[4]LOPEZ, F. Apud ZUMTHOR, Paul in: A letra e a voz. p. 240-262: A obra prima.
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