Um monstro dentro de um pai
Manhã de sol. Duas crianças brincavam no quintal. Um homem observava os meninos. A brincadeira que eles praticavam o incomodava. Os meninos jogavam bola em um pequeno espaço. A intensidade do barulho incomodava ao moço e, provavelmente, aos vizinhos. O certo é que os meninos se divertiam.
Raul falava:
- Agora é sua vez de ficar no gol.
Pedro replicava:
- Eu já fiquei mais vezes do que você.
O debate prosseguia e o homem continuava a observar as ações de Raul. Sabia que Pedro estava sendo ludibriado por Raul, pois, aquele ficava muito mais tempo no “gol”, mas a ação de Raul era o que menos o estressava.
De repente, ouviu-se um barulho. Bum!!!!! A bola acertou a máquina de lavar. Logo em seguida ouviu-se outro barulho: pou!!!. A bola acertou a porta de um de quarto de despejo que se localizava na varanda do fundo da casa. Renato se irritou ainda mais. Levantou-se da mesa que estava sentado defronte para um notebook e saiu enfurecido. Ele foi até os garotos e ameaçou:
- Se a bola acerta em alguma coisa, mais uma vez, eu bato em vocês.
Homem retornou aos seus afazeres. As crianças continuaram a brincar. A bola pulava...pulava. Ela batia nas paredes; batia nas cadeiras que estavam varanda; batia até no carro estacionado na garagem. O moço parecia tranquilo. Respeitando o direito de brincar das crianças. Estava aparentemente tão calmo que não reagiu ao ver a bola atingir o automóvel. Mas por dentro, a ira ardia. Ela tomava conta do moço. Queimava a cabeça e incomoda às mãos. O teclado do computador tornou-se menos importante. A raiva o maltratava. O estresse o consumia. Parecia que uma dinamite, com pavio prologando, demorava a explodir. E não explodiu.
Renato ouviu mais um estranho. Só que esse estava acompanhado por um chiar de água. Os garotos gritavam: "não foi eu". O mais velho, Raul, correu e fechou o registro do hidrômetro. Mas isto não foi suficiente para amenizar a explosão de estresse que implodiu dentro do homem. Ele estava irreconhecível. Só teve tempo de pensar no remédio antidepressivo que tomava de vez em quando. Descobriu que não o havia tomado naquele dia. Ele saiu gritando: - eu vou matar vocês.
As crianças não tiver dúvida de que o homem iria cometer tal crime: correram.
Antes de cometer o homicídio, Renato foi observar a situação em que se encontrava a água encanada. Viu um cano quebrado. Viu uma multidão de água que escorria pelo piso da garagem. Um dilúvio tomava conta da casa. Irritou-se ainda mais. Saiu correndo como um louco. Foi até a cozinha. Pegou uma faca. Saiu desesperado em direção aos meninos. Os garotos estavam assustados. O menor não parava de correr. Ele dava volta na casa a cada momento que via o moço. O mais velho levantou as mãos e pediu:
- Por favor, pai! Por favor, pai!
Homem parecia irredutível quanto ao que iria fazer. O estresse subjugava seus pensamentos humanos. Renato estava irracional. Uma nuvem negra lhe cobria a memória. A emoção era infinitamente maior que a razão. O instinto selvagem apoderou-se dele. Algo lhe dizia que era o momento para fazer o que sempre almejou. Não teve mais dúvida. Então era o momento. Como um raio, aproximou-se dos meninos. Tomado pela loucura, quis gritar, esbravejar-se. Estava cego de entendimento, assim como parecia não ver nada a sua frente. Por isso, ficou a procurava ... procurava... andava em círculo. Procura por algo que certamente estava no interior do círculo.
O tempo estava infinito para o Renato. Os segundo demoravam uma eternidade. Mas o que ele procurava no mundo real foi encontrado em milésimos de segundo. Logo, pegou a bola. Foi em direção às crianças com a bola nas mão e disse:
- nunca mais vocês brincaram de bola aqui!
Renato agarrou-se a pelota com toda a força que tinha. Com a mão direita, enfiou a faca com todas as forças que tinha. A bola esvaziava ... esvaziava... Os garotos, atônitos, assistiam o maior crime presenciado por eles.
No entanto, o moço não ficou satisfeito. A bola de futebol demorava esvaziar-se. Então, Renato começou a cortá-la, fazendo um prazeroso corte em 360 graus. A bola estava partida ao meio, assim como o coração das crianças.
Enquanto o homem assassinava a bola, os garotos correram para a varanda colonial do fundo da casa. Já o Renato não estava satisfeito. Logo, dirigiu-se para lá, levando consigo a faca. Aproximou-se dos meninos. Andou rapidamente. Imediatamente, passou-se por eles. Entrou do quarto. Pegou uma bola de basquete e a cortou da mesma forma que fizera com a bola de futebol.
Em seguida, saiu em disparada rumo ao portão principal. Na garagem, recolheu as duas metades da bola de futebol; antes, fora até a cozinha; pegou um saco de lixo preto; pôs os pedaços das bolas no saco e o depositou em uma lixeira.
Está é uma crônica contendo o real. Há momento em que um ser humano se deixa tomar pela raiva, tornando um animal irracional. Nesse ínfimo de tempo, tudo é possível acontecer. No entanto, é preciso dominar a situação. Nem tudo que se almeja fazer é necessário que se faça; nem tudo que se promete, é necessário que se cumpra. Há outros caminhos para se resolver uma situação inesperada. Alternativas distintas existem para se sair de uma confusão. É necessário pensar. Não importa o estado emocional em que se encontra uma pessoa; é preciso parar e refletir; é preciso deixar Deus dar a direção certa. Certamente, Ele mostrará o caminho a se seguir. Portanto, nunca aja por impulso.
Professor, escritor, blogueiro, youtuber.
Formação: Licenciatura e Mestre em Letras pela UFMG.
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