A presença do feminismo na obra a carne

Este excerto faz parte de um artigo apresentado na Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Letras, na disciplina: Literatura brasileira - Naturalismo e Realismo, sobre a orientação do professor doutor Sergio Peixoto.
Por Geraldo Genetto Pereira
Professor, escritor, blogueiro, youtuber.
Formação: Licenciatura e Mestre em Letras pela UFMG.
Introdução
O romance A Carne, de Júlio Ribeiro, o determinismo não se resume somente ao instinto animal inerente ao ser humano, mas também a influência da natureza e do ambiente social em que se encontram as personagens. São esses ambientes que determinam e marcam as personagens principais do romance.

Há estudos acadêmicos que afirmam que a obra A Carne, de Júlio Ribeiro, apresenta personagens influenciadas pelo determinismo inerente ao ser humano através do meio em que elas vivem. Em princípio de análise, observa-se a narrativa contém uma personagem nomeada de Lenita, uma moça de família, que foi criada sobre a tutela do pai, o qual fornece elementos culturais e dogmas cultivados pela família para que a moça tenha uma boa formação sociocultural. Logo, há de se esperar que a jovem já moldada pelos preceitos culturais e religiosos familiares. No entanto, Lenita se torna uma rapariga que subjuga os costumes da época. O narrador apresenta a jovem ao leitor como uma garota que ama a pratica esportes e que domina as áreas da ciência. Isso era algo quase impensável para uma mulher do século XIX, devido as tradições socioculturais e pouca de inserção feminina no mundo do conhecimento científico/acadêmico.

Com base na narrativa que traz características da personagem Lenita, pode-se dizer que essa é uma opositora aos valores tradicionais  e está pré-determinada a romper com os eles. É importante observar também que o pai da garota  não percebe que ele próprio está a preparando para que tenha uma mentalidade distinta de boa parte das mulheres que viveram no século 19. Essa ação paterna indesejada faz surgir um determinante sociocultural que vai fazer com que a adolescente se torne destaque no mundo feminino da época, chocando os conservadores.

O primeiro cultural causado Lenita chegou primeiro à família. Ela informa ao pai que não vai se casar. Isso o assusta, pois, o matrimônio era um dos mandamentos da igreja que ele frequentava. Mas houve um alento, já que o homem relembrou que a castidade era vista como uma virtude moral e um dom divino. Mas a surpresa que a moça preparou para a família não parou nessa ação. Lenita era mesma uma garota distinta das demais da comunidade. Ela estava preparada para enfrenta do dogmas sociais e religiosos como ter filho fora do casamento e se envolveu com um homem divorciado.

A personagem Barbosa é apresentado ao leitor como um homem que não se deu bem no matrimônio, pois, o que o levou a se divorciar de uma francesa. É esse homem que vai se torna o amante/namorido de Lenita. No entanto, a relação de ambos não era tão pública assim. Lenita ia ao encontro de moço simplesmente para obter prazeres lascivos praticamente às escondidas. O fato de ser “caçado” por uma mulher “dissoluta” constrangia o parceiro. Isso era tanto intenso que Barbosa pediu a moça que só fosse ao seu quarto durante a noite. Vê-se que, ao contrário da jovem, o home possuía um moral a se zelar.

Barbosa é descrito na narrativa como um cigano que vive a vagar pelo mundo, um nômade que morou em vários países da Europa. Neste caminhar pelo mundo, teve várias amantes. Nenhum relacionamento foi duradouro. A prova disso é que nem mesmo um casamento com uma francesa, o qual se deu conforme a liturgia religiosa, foi indelével. Nesse contexto de relação amorosa,  pode-se dizer que o seu envolvimento com a Lenita foi um acontecimento quase natural, uma vez que já vivia o determinismo social de troca de mulheres. Além disso, estava determinado que nascera para ser infeliz no amor, que conceito cultural e religioso de que o casamento é "até que a morte separe o casal" não funcionaria para ele.  Logo, a relação com Lenita certamente duraria pouco tempo.  O leitor, que se envolve com trama, fica a esperar que a qualquer momento finde o relacionamento dos dois, já que Barbosa tem pudor em revelar seu relacionamento amoroso com a moça para a comunidade em que viviam. Claro que os bisbilhoteiros de plantão sabiam do relacionamento amoroso "proibido" e comentam nas rodas de conversas.

Como previsto, os encontros concupiscente não durou muito. Mas isso não foi só culpa do homem, pois, a moça usava  seu amásio apenas para saciar o apetite impudico. De acordo com a narrativa, ela precisava apenas de um macho para se satisfação libidinosamente e nada mais: era uma mulher independente da figura masculina, exceto a relação salaz. Ao saciá-la, o homem perde o valor, tornando -se um objeto fútil para a jovem. Foi esse sentimento que a levou ao abandono de Barbosa. Ela moça podia obter suas libertinagem com qualquer ser do ser sexo oposto. Além disso, há uma virada de chave nas relações amorosas do moço: quem sempre abandonou as parceiras, agora é abandonado.

Portanto, o romance A Carne traz para o leitor elementos de típicos de uma nova escola literária em que se pode fazer uma descrição da patologia de suas personagens, perpassando pelo determinismo científico que é uma corrente de pensamento filosófico que defende que todos os acontecimentos são determinados por causas anteriores, assim como seres que podem ser objetos de investigação cientifica em laboratório, sendo que depois da realização dos experimentados cientificamente são descartados. Isto é, o ser um homem é usado como cobaia nos experimentos científicos como se fosse animal irracional, logo, não há diferença entre o homem sapiens e os outros animais. 

Além disso, o narrador apresenta seres humanos sem sentimentos empáticos, que buscam espólios para realizarem seus instintos desejos, como animais a caçar presas para se alimentarem. Há ainda uma mulher que rompe os preceitos da época, que não possui limites ou regras a obedecer, que se alinha aos ideias dos primeiros movimentos feministas do século XIX em busca de liberdade sexual, religiosa e afetiva. Por fim  vemos na narrativa de A carne, a dominação masculina sendo devorada pelo avanço do feminismo e o homem sucumbindo no comando das paixões, deixando-se dominar pelas mulheres e se tornando infeliz, como ocorre com Barbosa que é dominado por Lenita,  usado por ela e abandonado ao lixo, como um objeto descartável.

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