O bê-á-bá do caótico trânsito de BH
O Brasil vive a ascensão econômica e, com ela, ascendem-se vários problemas típicos de países ricos. Na década de noventa do século vinte, era comum vermos veículos circularem nas vias públicas com facilidade, devido a pouca retenção que havia no trânsito. Porém, isso mudou. Hoje, o tráfego de veículos tornou-se indesejável aos habitantes das grandes cidades. Nele, é necessário paciência. Parece que a “riqueza” dos brasileiros trouxe consigo um trânsito caótico.
Atualmente, trafegamos nas avenidas das capitais brasileiras e, nelas, passamos dolorosos minutos e, muitas vezes, horas presos no congestionamento. Neste ínterim, percebemos como o brasileiro está individualista, pois observamos que no interior dos veículos há apenas o condutor. Isso mesmo, Nas ruas das grandes cidades há milhares de veículos com milhares de motoristas solitários. Porém, isso não ocorre por acaso. Em Belo Horizonte, por exemplo, este procedimento foi incentivado em uma época em que se proibia a carona.
No final do século vinte e início do vinte um, trabalhei em um shopping que fica na divisa de Belo Horizonte com Nova Lima. Neste tempo, era comum ir e voltar para casa de carona. Todavia, isso foi necessário mudar. A gestora do trânsito de Belo Horizonte implantou uma política de tolerância zero à carona. Câmara de Vereadores e o prefeito da capital mineira incentivaram essa política aprovando e sancionando lei que visava criar motoristas solitários. Carros, com passageiros no banco traseiro, era “proibida” a circulação, devido à suposta prática do transporte clandestino. Isso foi terrível para quem dependia de uma carona de amigo, como era o meu caso. Eu e meus colegas de trabalho éramos obrigados a circularmos com crachás de empresa para provarmos que o motorista não estava praticando transporte irregular. Contudo, isso não bastava aos fiscais do trânsito. Éramos obrigados a declarar que o dono do veículo não nos cobrava pelo transporte, evitando assim a indesejável e pesada multa. Mentíamos. Claro. Não queríamos ser transportados em ônibus coletivos como morcegos pendurados em tetos.
O tempo passou, a frota de veículos leves cresceu e a filosofia implantada capital mineira encontrou muitos adeptos. Hoje, circulando pelas vias da cidade, vejo como a empresa gestora do trânsito de Belo Horizonte foi importante para tornar os motoristas solitários no trânsito. Como prova disso, observo que não há mais motoristas de veículos leves parando perto de pontos de ônibus e oferendo “carona” aos seus vizinhos e conhecidos. Quase todos, que circulam com seus carros nas ruas e avenidas Capital das Gerais, estão apenas acompanhados de um autorrádio. Esses solitários e individualistas colaboram para o aumento do tráfego de veículo e tornam os congestionamentos ainda maiores.
Atualmente, vejo que se faz campanha para evitar a grande circulação de veículos nas grandes cidades. “um dia sem carro” - clamam os defensores do menos caótico. Contudo, isso não resolve o congestionamento que ocorre diariamente nas megalópoles. Outro ponto que ainda não produziu bons frutos é o rodízio de veículos. Ele ajuda, mas não soluciona o problema. Creio que uma das soluções passa pelo incentivo à “carona”, não se importando com a contribuição financeira do passageiro para a manutenção do veículo particular. Essa, sim, reduz o número de veículos nas vias urbanas, pois se um carro leve pode transportar até cinco pessoas, é certo que até quatro veículos não sairão das garagens dos proprietários. No caso de Belo Horizonte, vejo que é necessário revogar a lei que trata este procedimento como inflação de trânsito. É preciso que os gestores públicos não façam de um gesto solidário uma oportunidade de arrecadar fundos para os cofres públicos.
Professor, escritor, blogueiro, youtuber.
Formação: Licenciatura e Mestre em Letras pela UFMG.
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