Projeto máscara afro-brasileira

Este projeto foi apresentado na Universidade Federal de Minas Gerais/Faculdade de Educação, na disciplina: Didática de Ensino.

Por Geraldo Genetto Pereira
Professor, escritor, blogueiro, youtuber.
Formação: Licenciatura e Mestre em Letras pela UFMG.
Disciplinas
Língua Portuguesa, Língua Inglesa e Arte.

Público alvo
Anos finais do Ensino Fundamental

Conceitos teóricos
A principal fundamentação desta proposta de prática de ensino está nos Parâmetros Curriculares Nacionais que propõe que a escola trabalhe com a diversidade cultural e formação ética e estética através da arte. "Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de:
  • Conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais, materiais e culturais como meio para construir progressivamente a noção de identidade nacional e pessoal e o sentimento de pertinência ao país;
  • Conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer discriminação baseada em diferenças culturais, de classe social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características individuais e sociais;
  • Desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício da cidadania."
  • Abordar ética no ensino e aprendizagem de Arte é, sobretudo, tratar da relação entre ética e estética.
  • Trabalhar ética e estética na produção de arte dos alunos e de artistas significa considerar suas possibilidades criadoras correlacionadas com as realidades socioculturais e comunicacionais em que vivem. Na elaboração artística, há questões e situações que são inerentes à arte e que podem ser problematizadas, como o respeito mútuo, a justiça, o diálogo, a solidariedade humana.
  • Os professores de Arte podem planejar experimentos e debates que ajudem os alunos a posicionar-se com sensibilidade e critérios éticos, diante de um conjunto de circunstâncias, por vezes contraditórias, que coexistem na vida das pessoas. São, entre outras, situações relacionadas a: manifestação de respeito ou desrespeito sobre as produções artísticas de diferentes grupos étnicos, religiosos, culturais. Aspectos de ética estão presentes em situações humanas de todos os temas transversais, ou seja, à pluralidade cultural, etc."
  • O estudo pluriculturalista considera como os diversos grupos culturais encontram um lugar para arte em suas vidas, entendendo que tais grupos podem ter necessidades e conceitos de arte distintos. O sentido pluriculturalista amplia a discussão sobre a função da arte e o papel do artista em diferentes culturas, assim como o papel de quem decide o que é arte e o que é arte de boa qualidade. Essas discussões podem contribuir para o desenvolvimento do respeito e reconhecimento de diferenças.
Objetivo geral:
Apresentar a cultura africana como formadora da identidade brasileira.

Objetivos específicos:
Fomentar os alunos a refletirem sobre a identidade cultural brasileira; propor o reconhecimento das influências dos hábitos africanos nos hábitos brasileiros; de forma subliminar, enfraquecer o racismo através da identificação dos alunos com a cultura negra; oferecer atividade artística a adolescentes que são tolhidos de tal na escola.

Textos base
  • "Povos e línguas africanas", Yeda Pessoa de Castro
  • "A rota dos tambores no Maranhão", Ilê Aiê 2003
  • "Africanismos no português do Brasil”, Margarida Maria Taddoni Petter
  • "O evento Kakilambê, uma dança e máscara de mesmo nome, originários do povo Baga, da Guiné", Pedro Mendes
  • "Os Yaka; suas origens e sua concepção de arte e religião; o duplo sentido do termo nkisi ou muquixe", Alberto Oliveira Pinto
  • "Deixei meu coração em baixo da carteira - Um início de conversa com os educadores infantis sobre o preconceito e as questões raciais", Yvone Costa de Souza
Metodologia
O trabalho será realizado em uma sala de aula extensa, com carteiras e com um aparelho de som.
Para conhecer as ideias e imagens que os alunos têm da África, pediremos que cada um desenhe em papel ofício, com giz de cera e lápis de cor, aquilo que primeiro lhe vem à cabeça quando eles houvem a palavra "África". 

Além disso, tem-se a intenção de comparar a cultura do Brasil e da África. Para isso faremos coletivamente a leitura do texto "Vocabulário afro-brasileiro", refletindo ou discutindo o que for proposto pelos alunos, e partiremos para o trabalho de fotos. 40 fotos, brasileiras e africanas, serão entregues aos alunos para distinguirem a qual região pertence a imagem e então colar a foto no mapa correto, do Brasil ou do continente africano. Estes mapas foram desenhados e recortados em EVA e ficarão na escola com as fotos anexadas. Esta atividade será realizada ao som de músicas africanas.

Concluída a fixação, discutiremos as semelhanças entre os dois lugares, faremos verbalmente as possíveis correções, mantendo no mapa do Brasil as fotos africanas que lá estiverem e no mapa da África as brasileiras. Lembraremos aos alunos a entrada dos africanos no Brasil, motivo de tantas semelhanças entre as imagens apresentadas.

A atividade criativa que usará elementos da cultura africana é a confecção de máscaras. Os alunos verão fotografias de máscaras africanas e lerão o texto "A arte das máscaras". Também com músicas ao fundo, a partir de um modelo pronto de máscara, os adolescentes construirão as suas com os seguintes materiais: taquara, papel cartão, papel crepom, sisal, fibra, lã colorida, saco de papel, tecido (chita), barbante, cola quente, tesoura.

Já mascarados os alunos receberão uma lista com palavras do português do Brasil que têm descendência africana e se dividirão em grupos de 6 ou 7 pessoas para compor uma música com tais palavras. Os instrumentos usados serão de percussão, incluindo xique-xique de lata com milho construído pelos alunos. Cada grupo deve escolher um ritmo e terão 30 minutos para experimentarem e chegarem a um formato musical com instrumento e letra. Realizadas as composições, os grupos se apresentarão, um de cada vez, para o coletivo.

A importância da criação musical e da máscara está em incorporar com autonomia elementos artísticos de outra e própria cultura. Atividades artísticas costumam aflorar e trabalhar áreas sensíveis, então apresentar a África como formadora do Brasil através da arte pode ter uma receptividade maior pelos alunos, e principalmente internalização do realizado já que a produção criativa também é do interno. Ao final, concluiremos refletindo coletivamente sobre as atividades, recuperando os desenhos caso alguém levante questões sobre imagens que temos da África.

Cronograma
  • A prática será realizada em uma data específica. O período programado é de 4hs de duração, incluindo intervalo para lanche.
  • A ordem das atividades será:
    •  Apresentação das pessoas e da proposta; 
    • Desenho livre; 
    • Leitura do 1º texto; 
    • Trabalho com fotos;
    •  Intervalo; 
    • Leitura do 2º texto; 
    • Construção da máscara; 
    • Composição musical;
    •  Fechamento.
Referências bibliográficas
CASTRO, Yeda Pessoa, Povos e línguas africanas In: Falares africanos na Bahia, Academia Brasileira de Letras Topbooks bragancanet.pt.ced.ufsc.br
Enciclopedia Multimedia del Arte Universal©AlphaBetum Multimedia
mundoetnico.com.br/mascaras
multiculturas.com/angolano
PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) - MEC

Anexos:
 
Texto I

Vocabulário Afro-brasileiro
A África é um continente composto por 53 países, mas o número de línguas faladas nesta região é muito maior: cerca de 1900. Em 1955, um linguista chamado J.H. Greenberg classificou todas as línguas da África. Entre essas línguas havia algumas com grandes semelhanças que foram denominadas BANTO, que foi o primeiro grupo a despertar a curiosidade dos pesquisadores estrangeiros. O nome banto passou a ser utilizado para denominar 190 milhões de pessoas que habitam territórios localizados abaixo da linha do Equador, em uma área correspondente a 9 milhões de Km². Nesta área estão países como Camarões, Angola, Moçambique, Quênia, África do Sul, entre muitos outros.

E o Brasil, qual a ligação do nosso país com o banto? Simples, africanos da área banto foram trazidos à força para o Brasil, em especial para a Bahia, na época em que a escravidão era permitida. Junto a eles vieram também negros de outras regiões africanas, chegando ao Brasil cerca de 200 falares da África. Mas as principais marcas percebidas no português atualmente estão com os bantos e com os iorubás, sendo estas línguas também formadoras da língua portuguesa brasileira. Palavras como moleque, camundongo, cacunda, catinga, jaca, mandinga, barba, inhame, etc., vieram da África para o Brasil junto de vários costumes que fazem parte da nossa cultura.

Texto II

A arte das máscaras
A África é um continente de muitos ritos e religiões. Um dos elementos mais usados nestes eventos é a máscara. Em geral, as máscaras africanas têm um papel sagrado e possuem virtudes mágicas. O sagrado está na crença de que ela carrega uma divindade e é capaz de afetar tudo o que estiver em sua volta.
A África é um continente muito grande, por isso há muitas diferenças entre um país e outro. Mas no geral as máscaras simbolizam espíritos naturais e são utilizadas durante cerimônias associadas a novas colheitas, às iniciações masculinas e femininas, casamentos, nascimentos e também funerais, para acalmar o espírito que morreu. As máscaras também são usadas para espantar os maus espíritos, curar os doentes, agradecer à natureza pelos bens que ela oferece ao homem (o sol, a terra e a chuva), trazer saúde para os jovens.

O material mais usado para fazer a máscara é a madeira verde, embora existam também peças de marfim, bronze e terracota. Antes de começar a entalhar, o artesão realiza vários rituais no bosque, onde normalmente desenvolve o trabalho, longe da aldeia e usando ele próprio uma máscara no rosto. A máscara é criada com liberdade, sem precisar de esboço.

O Brasil não tem tradição tão forte de máscaras quanto os países da África. Mas como nosso país é formado por muitos africanos, por causa do tráfico de escravos, alguns lugares do Brasil tem o costume de usar máscaras em eventos como bumba-meu-boi, folia de reis e outras manifestações folclóricas. Outras culturas colaboraram com o uso de máscara no Brasil: muitos índios brasileiros, usando-a para rituais, e os portugueses que no século XIX passaram a fazer baile de Carnaval usando máscaras.

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