Quanto vale o seu voto?

Há um ditado popular que se diz: “pagando bem, que mal tem.” Nesta trilha sonora das vogais e consoantes do dito popular acima perpassa o pensamento de milhões de brasileiros. Desculpe-me por insistir com a pergunta: quanto vale o seu voto?

Permita-me dizer que seu voto vale muito. Se se paga bem ou mal por ele, sempre haverá consequências. Um país só se constrói por meio da liberdade de escolher. Isso é fato. Mas essa é preciso ser boa em todos os sentidos. Se isso não ocorrer, seu voto vale menos do que uma fossa séptica. Os biólogos e químicos entendem o que digo. Seu voto pode valer quatro anos de uma má ou boa gestão. Seu voto vale o poder para aqueles políticos que têm nojo de pobres. Pergunta-me qual classe social eles defendem. Político que afirma que "Nunca cuidei dos pobres, não sou são Francisco de Assis. Até porque a primeira vez que tentei carregar um pobre 'pra' dentro do meu carro, eu vomitei por causa do cheiro" defende qual classe social? Não é uma questão de disputa social; é uma questão social, econômica e cultural. Sem se importar com a classe social, pode-se dizer que o ser humano nasce igual; assim como seu fim será igual. Pense: se você faz parte da elite hoje, não está imune à pobreza. Ela chega à casa dos pobres, assim como chega aos palacetes dos ricos, de forma direta ou indireta. Você nunca estará imune às mazelas da pobreza. Infelizmente.

Há pessoas e partidos políticos que acham que só se deve governar para a elite, de preferência para os caucasianos. Portanto, eleitor, tenha prudência na hora de escolher membros desses grupos partidários, pois eles não têm compromisso com o todo de uma nação.

Mais, e aí, quanto vale o seu voto? Bem; seu voto pode valer o retrocesso econômico e social; pode valer o retorno de milhares de brasileiros a extrema pobreza; pode valer o retorno da economia do país as ingerências do FMI. Por muitos anos, os brasileiros pagaram juros sobre juros ao Banco Mundial. Presidentes e mais presidentes se humilharam diante dos poderosos pedindo ajudada econômica. Isso aconteceu porque os governos, que só trabalhavam para o bem-estar das elites, diziam que recorrer aos empréstimos internacionais era necessário para o crescimento do Brasil. Não; não era! Assim que outro modelo político chegou ao poder, provou que os seus antecessores estavam errados. Uma dívida que era considerada impagável, por muitos economistas brasileiros, foi extinta em pouco tempo. O Brasil passou de devedor a credor. A economia cresceu. O PIB elevou. Milhares de pessoas saíram da pobreza extrema. Os "luxos" chegaram às casas dos menos favorecidos. Ricos e pobres desfilavam em carros de luxo. Isso incomodou a muitos.

Quanto vale o seu voto? A sua imperícia na hora de votar vale colocar no poder megaempresários que dizem não serem políticos, por isso se veem no direito de governar só para uma classe social, a que eles representam. O ser político é aquele que governa para todos. Conforme o pensamento político de Aristóteles, o homem é um animal político por natureza. Assim sendo, o homem não deve ignorar a coletividade privilegiando interesses particulares. Aristóteles observa que o homem é um ser que necessita de coisas e dos outros, sendo, por isso, um ser carente e imperfeito, buscando a comunidade para alcançar a completude. E a partir disso que ele deduz que o homem é naturalmente político. Em suma, político é aquele que governa para um estado ou para uma nação; aquele que se relaciona com o espaço público. Um ser político que se diz não político pode ser comparado ao mito da caverna de Platão, no qual o poeta imagina uma caverna onde os homens estão acorrentados desde a infância, de tal forma que, não podendo se voltar para a entrada apenas enxergam o fundo da caverna. O cidadão não político tem essa qualificação do mito da caverna. Ele só enxerga o espaço onde passou toda a sua vida.

Quanto vale o seu voto? Seu voto vale uma PEC-241 que almeja 20 anos de retrocesso social e cultural. Nesse tempo, os ricos, empresários não terão seus lucros congelados ou geridos pelos índices inflacionários. No entanto, os proletários terão seus ganhos controlados porque para a ideologia cultural caucasiana e elitista não se pode permitir a pobres e ricos andarem de avião; não se pode permitir a pobres e negros frequentarem locais, como praias, frequentados pela elite econômica; não se pode permitir a pobres e negros passarem férias em países estrangeiros; não se pode permitir a pobres e negros terem na garagem carros novos. Para essa ideologia, é necessário diferir o carro do rico ao carro do pobre parado em um semáforo.

Quanto vale o seu voto? Se você acha que vale mais que uma Bolsa Escola; que uma Bolsa Família; tudo bem. Está correto em seu raciocínio. Isto é verdade: seu voto vale muito mais que isso. Você pode não concordar com o formato da distribuição de renda; no entanto, não seja imbecil a ponto de dizer que ela foi errada. Só se constrói uma grande nação dando oportunidades a todos. Só se constrói uma grande nação trazendo equidade na distribuição das riquezas.

Quanto vale o seu voto? Ele vale a formação política, econômica, social e cultural do seu ente querido. Deve ser constrangedor para a elite ver, sentados em uma sala universitária, pobres e ricos obtendo os mesmos direitos de uma formação cultural e profissional. Também é constrangedor ouvir os membros da elite econômica dizerem que os programas sociais de incentivo à formação profissional terão fim e que o estudante beneficiário terá que bancar o fim do curso com seus próprios recursos. Quem já frequentou uma universidade privada sabe que estou sendo verídico ao citar tal falácia. Não tive o privilégio de tal benefício ou abandonar a faculdade.

Quando eu me ingressei no curso superior, havia restrição a este nível de formação. Foram penosas horas de estudos para eu ingressar em uma universidade federal. Havia dia em que eu passava mais de dezesseis horas estudando. Não bastava vencer a etapa que enfatizava a leitura, compreensão e interpretação de textos; era necessário provar que sabia escrever e argumentar semelhante à elite econômica, que frequentava as melhores escolas privadas e se preparava para a segunda etapa dos vestibulares das universidades públicas em pré-vestibulares que chegavam a custar mais de três salários mínimos por mês. Em Belo Horizonte, eles tinham até nomes apropriados aos seus públicos como “Elite”, “Classe A”. Quase que exclusivamente, a tal etapa almejava excluir a classe menos favorecida do Ensino Superior.

Nos finais dos anos de 1990 e início dos anos 2000, só restava aos menos favorecidos quebrar os paradigmas e passar na segunda etapa dos vestibulares. Outrora, muitos universitários vendiam o corpo para pagarem cursos superiores em instituições privadas. Quando se chegava à sala de aula nas universidades públicas, era comum ver gráficos e ouvir discursos de professores mostrando a quase impossibilidade de alunos de escolas públicas fazerem parte do grupo de discentes universitários. Lembro-me que uma aluna do curso de Medicina que estudou numa escola pública no Bairro Vila Cloris, em Belo Horizonte. O índice de aprovação de alunos da escola estadual em Medicina na UFMG era 0,001... Havia aqueles docentes que diziam que a chegada de alunos de escolas públicas as universidades públicas federais reduzia o nível acadêmico da instituição. Um pensamento elitista e preconceituoso.

Quanto vale o seu voto? De tempo em tempo há eleições; há etapas eleitorais. Quem lhe representa em cada uma dessas etapas nas urnas eletrônicas? Você acredita na falácia: "não sou político"? Você acha que a elite representa os pobres e esses representam a elite? Não se esqueça de que quando você está digitando um número de um candidato, naquele momento, você representa seus entes queridos; sejam eles idosos, adultos, jovens, adolescentes, crianças e até os fetos. Qual futuro você almeja construir para eles. Lembre-se de que este é um dos valores do seu voto: votar consciente.

Por Geraldo Genetto Pereira
Professor, escritor, blogueiro, youtuber.
Formação: Licenciatura e Mestre em Letras pela UFMG.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Ensino médio - exercícios de modalização em textos - com gabarito

6º ano - gênero lenda - exercícios com gabarito