ensino Médio - Romance “O cortiço” - com gabarito.

 No famoso romance brasileiro “O cortiço”, iremos observar o enredo da obra, identificar suas características e reconhecer a presença do negro neste texto literário.

FONTE: <https://cutt.ly/cnt5gKj>. Acesso em: 16 de maio de 2021.

“O cortiço” é um romance brasileiro, considerado um dos principais representantes da Escola Literária Naturalismo no nosso país. A obra foi escrita por Aluísio de Azevedo e publicada pela primeira vez em 1890. A narrativa conta a história de diversos moradores de um cortiço, no Rio de Janeiro. João Romão é o ambicioso dono do “Cortiço São Romão”, que constrói as primeiras casas roubando materiais de seus vizinhos, junto com sua companheira Bertoleza, uma escrava que achava que era livre. O cortiço é repleto de moradores, cada um com suas histórias. Rita Baiana, Firmo, Piedade, Jerônimo, Pombinha são alguns desses moradores. Representando a burguesia carioca, aparece Miranda — um comerciante  português —, sua esposa Estela e a filha do casal, Zulmira. “O cortiço” é uma espécie de retrato da sociedade carioca do fim do século XIX, que passava por uma reorganização social, além de estar se adequando às consequências da Lei Áurea, que abolia a escravidão no país.

Bertoleza, Rita Baiana, Paula,.

É importante tratarmos sobre como as pessoas negras eram representadas no romance, que foi o primeiro publicado no Brasil após a abolição da escravatura. Mesmo libertos da escravidão, os negros foram marginalizados e tinham grande dificuldade de colocação e ascensão social, problema que perpetua até hoje e é considerado uma dívida histórica, a qual a nação precisa reparar.

A representação do negro na obra “O Cortiço” é dada por meio do excessivo trabalho sem a devida remuneração e a exclusão social (como apresentado pela personagem Bertoleza), da mulher sensual e exótica (por meio de Rita Baiana) e das práticas religiosas — expostas com cunho pejorativo pelo autor — (elucidada por Paula ou “A bruxa”), além de outras representações. Vale ressaltar que a forma como as pessoas negras são representadas no romance equivalem a um pensamento racista, contra o qual devemos lutar para que seja extinto de nossa sociedade.

Outra forma de representação dos negros no livro é por meio da capoeira. Como afirma Galvão (2015): A representação das capoeiras no romance “O cortiço” traz a beleza de um dos maiores símbolos da resistência negra do final do século XIX e início do XX. Apesar de todo o preconceito em torno do tema na época, conseguimos extrair muito do que foram os capoeiras daquele período.

(GALVÃO, 2015, p. 130)

Assim, podemos perceber que havia, também, uma importante presença da cultura africana na narrativa.

(JAF, 2009)

Ao longo de mais de um século de publicação, “O cortiço” já ganhou diversas versões e foi adaptado para filme e, também, para graphic novel.

FONTE: <https://cutt.ly/vnyErBr>. Acesso em: 16 de maio de 2021

A graphic novel de “O cortiço”, adaptada por Ivan Jaf e ilustrada por Rodrigo Rosa, tem a mesma essência da história original. Porém, os desenhos dão vida à obra, pois fazem com que aquilo que estava  somente em nossa imaginação se torne real.

O autor, Aluísio de Azevedo, nasceu em São Luís, MA, em 14 de abril de 1857. Ele era caricaturista, jornalista, romancista e diplomata. Azevedo começou a publicar os seus romances em folhetins, parte dos jornais dedicada ao entretenimento. Uma das preocupações do autor era observar e analisar os agrupamentos humanos. Daí que surgiram as obras “Casa de pensão”, de 1884, e “O cortiço”, de 1890.

Agora que já vimos muitas informações sobre a obra, vamos fazer algumas atividades.

ATIVIDADES

Questão 1.   (UFV-MG) Leia o texto abaixo, retirado de “O Cortiço”, e faça o que se pede:

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo. […]. O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e resingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 34-35.

Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma possível leitura do fragmento citado:

a) No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda como uma colmeia humana.

b) O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos visuais, olfativos e auditivos.

c) O discurso naturalista de Aluísio Azevedo enfatiza nos personagens de “O Cortiço” o aspecto animalesco, “rasteiro” do ser humano, mas também a sua vitalidade e energia naturais, oriundas do prazer de existir.

d) Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os elementos introspectivos dos personagens, procurando criar correspondências entre o mundo físico e o metafísico.

e) Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela constante utilização de metáforas e sinestesias, uma preocupação em apresentar elementos descritivos que comprovem a sua tese determinista.

Extra:

Para o aristotelismo, o mundo metafísico, caracteriza-se pela investigação das realidades que transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a todas as ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser.

Para o kantismo, o mundo metafísico diz respeito a toda especulação a respeito de realidades suprassensíveis (a totalidade cósmica, Deus ou a alma humana), e fonte de princípios gerais para o conhecimento empírico.

O romance metafísico é aquele em que se expõe a filosofia através da literatura. É apreender o mundo como um objeto e em seguida transformá-lo em texto, em uma trama na qual a ambiguidade é escancarada.

No trecho, o narrador descreve o meio (cortiço) e os personagens como um todo. Como se fossem intrínsecos, ou seja, tanto o cortiço faz parte dos personagens, quanto os personagens pertencem ao cortiço. Por isso, a afirmação (A) é verdadeira. O autor descreve minuciosamente algumas ações dos moradores do cortiço, mostrando, através de figuras de linguagem, como aquelas ações básicas do dia a dia são responsáveis por expor como é a vida desses personagens, e despertando no leitor sensações olfativas e auditivas. Dessa forma, comprovamos as afirmações contidas nas letras (B), (C) e (E). Em momento algum, no trecho, os personagens são tratados como particulares, ou tem suas essências exploradas. Pelo contrário, o cortiço é tratado como um todo. Por isso, a afirmação contida na opção (D) é falsa.

Questão 2.  Em um determinado momento da história, o cortiço pega fogo e se transforma em uma confusão generalizada. Leia os dois fragmentos abaixo e responda o que se pede:

FRAGMENTO 1:

“Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero.”

FRAGMENTO 2:

“E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.”

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Porto Alegre: L&PM, 2009.

Aponte a alternativa que explicita o que os dois trechos têm em comum:

a) Preocupação de um em relação à tragédia do outro, no primeiro trecho, e preocupação de poucos em relação à tragédia comum, no segundo trecho.

b) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo de todos por si próprios, no segundo trecho.

c) Angústia de um não poder ajudar o outro, no primeiro trecho, e angústia de não se conhecer o outro, por quem se é ajudado, no segundo trecho.

d) Desespero que se expressa por murmúrios, no primeiro trecho, e desespero que se expressa por apatia, no segundo trecho.

e) Anonimato da confusão e do “salve-se quem puder”, no primeiro trecho, e anonimato da cooperação e do “todos por todos”, no segundo trecho.

Questão 3. (FUVEST, 2011)

— Não entra a polícia! Não deixe entrar! Aguenta! Aguenta!

— Não entra! Não entra! Repercutiu a multidão em coro.

E todo o cortiço ferveu que nem uma panela ao fogo. ~

— Aguenta! Aguenta!

AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. Porto Alegre: L&PM, 2009.

O fragmento acima mostra a resistência dos moradores do cortiço à entrada de policiais no local. O romance de Aluísio Azevedo

a) representa as transformações urbanas do Rio de Janeiro no período posterior à abolição da escravidãoe o difícil convívio entre ex-escravizados, imigrantes e poder público.

b) defende a monarquia recém-derrubada e demonstra a dificuldade da República brasileira de manter a tranquilidade e a harmonia social após as lutas pela consolidação do novo regime.

c) denuncia a falta de policiamento na então capital brasileira e atribui os problemas sociais existentes ao desprezo da elite paulista cafeicultora em relação ao Rio de Janeiro.

d) valoriza as lutas sociais que se travavam nos morros e na periferia da então capital federal e as considera um exemplo para os demais setores explorados da população brasileira.

e) apresenta a imigração como a principal origem dos males sociais por que o país passava, pois os novos empregados assalariados tiraram o trabalho dos escravos e os marginalizaram.

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