Questão 1. Leia o primeiro parágrafo do romance “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Depois responda o que se pede:
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
ASSIS, Machado. Memórias póstumas de Brás Cubas. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000167.pdf - Acesso em: 14 maio 2021
a) Quais foram as duas considerações que levaram Brás Cubas a contar em primeiro lugar a sua morte?
Primeiro, a surpresa da obra começa desde o título, que indica as memórias narradas por um defunto; o narrador-personagem, almejava fugir do tradicional em que a morte vem no final; de forma bem-humorada, ele também afirma ser um defunto que narra o que aconteceu em vida, diferente de outras personagens. Ademais, é ele quem impõe uma ordem na apresentação e privilegiando os fatos que deseja; por não fazer mais parte desta vida, isso o isenta de quaisquer responsabilidades sobre o que escreve, não temendo sofrer correções ou repreensões, pois já não existe nenhum compromisso ou vínculo a esta vida.
b) – Ainda sobre o trecho lido de “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, responda: o romance narra, em vida, que Brás Cubas escreveu vários poemas e artigos para jornais e revistas. Como isso confirma o fato de que ele é um “defunto autor” e não um “autor defunto”?
A opção ficcional de Machado pelo “defunto autor” (que é personagem protagonista e narrador) soa de tal forma comum que leva o leitor automaticamente a aceitar o fato, entrando na ficção, sem que reflita na pertinência dessa “postura” , por assim dizer, da personagem frente ao seu texto, que, certamente, não pode passar despercebida. Ao afirmar que eu não é propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, pode-se dar a entender que autor defunto é aquela escritor que não faz mais parte da vida terrena, enquanto que defunto autor mostra um escritor ativo na mente leitores mesmo após a morte, já que continua a sua produção de leitores de sua obra. A outra leitura possível é o fato de a sequência da narrativa contradizer o que afirma a personagem no início da obra, pois se ele produziu outras obras em vida, logo é um defunto autor.
Questão 2. Para responder as perguntas abaixo, você precisa ler um trecho do romance “O mulato”, de Aluísio de Azevedo:
Raimundo tornou-se lívido. Manoel prosseguiu, no fim de um silêncio:
– Já viu o amigo que não é por mim que lhe recusei Ana Rosa, mas é por tudo! A família de minha mulher sempre foi escrupulosa a esse respeito, e como ela é toda a sociedade do Maranhão! Concordo que seja uma asneira; concordo que seja um prejuízo tolo! O senhor, porém, não imagina o que é por cá a prevenção contra os mulatos!… Nunca me perdoariam um tal casamento; além do que, para realizá-lo, teria que quebrar a promessa que fiz a minha sogra, de não dar a neta senão a um branco de lei, português ou descendente direto de portugueses!… O senhor é um moço muito digno, muito merecedor de consideração, mas… foi forro à pia, e aqui ninguém o ignora.
– Eu nasci escravo?!…
– Sim, pesa-me dizê-lo e não o faria se a isso não fosse constrangido, mas o senhor é filho de uma escrava e nasceu também cativo.
Raimundo abaixou a cabeça. Continuaram a viagem. E ali no campo, à sombra daquelas árvores colossais, por onde a espaços a lua se filtrava tristemente, ia Manoel narrando a vida do irmão com a preta Domingas. Quando, em algum ponto hesitava por delicadeza em dizer toda a verdade, o outro pedia-lhe que prosseguisse francamente, guardando na aparência uma tranquilidade fingida. O negociante contou tudo o que sabia.
– Mas que fim levou minha mãe?… a minha verdadeira mãe? perguntou o rapaz, quando aquele terminou.
Mataram-na? Venderam-na? O que fizeram com ela?
– Nada disso; soube ainda há pouco que está viva… É aquela pobre idiota de São Brás.
– Meus Deus! Exclamou Raimundo, querendo voltar à tapera.
– Que é isso? Vamos! Nada de loucuras! Voltarás noutra ocasião!
Calaram-se ambos. Raimundo, pela primeira vez, sentiu-se infeliz; uma nascente má vontade contra os outros homens formava-se na sua alma até aí limpa e clara; na pureza do seu caráter o desgosto punha a primeira nódoa. E, querendo reagir, uma revolução operava-se dentro dele; ideias turvas, enlodadas de ódio e de vagos desejos de vingança, iam e vinham, atirando-se raivosos contra os sólidos princípios da sua moral e da sua honestidade, como num oceano a tempestade açula contra um rochedo os negros vagalhões encapelados. Uma só palavra boiava à superfície dos seus pensamentos: “Mulato”. E crescia, crescia, transformando-se em tenebrosa nuvem, que escondia todo o seu passado. Ideia parasita, que estrangulava todas as outras ideias.
– Mulato!
a) O texto nos mostra que o romance trata de um tipo de preconceito. Qual preconceito é esse? Justifique.
O preconceito racial e étnico, uma vez que a moça - a neta - só podia se casar com branco
de lei, português ou descendente direto de portugueses. Não podia se casar com negro ou brasileiro.
b) O texto apresenta indícios de um prejuízo social? Qual trecho pode comprovar essa afirmação? Como este prejuízo ainda está presente na nossa sociedade?
A mãe de Raimundo, uma ex-escrava, se tornou uma andarilha e está a mendigar e "perturbar" o bem-estar social dos "brancos", logo é qualificada como idiota. As questões sociais, como a pobreza, ainda é latente no Brasil. Há inúmeras pessoas mendigando pelas ruas das grandes e pequenas cidades as quais parte da população as vê com um olhar marginal.
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