Plano de aula: Literatura indígena

PÚBLICO-ALVO: Estudantes do Ensino Fundamental II.
Nº DE AULAS: 06 (40 a 50 min cada).

OBJETIVOS GERAIS:
Apresentar brevemente a Literaturas Indígena.
Contextualizar as(os) alunas(os) acerca de dois dos aspectos que norteiam a cosmovisão e literaturas indígenas: a multiplicidade e a relação com a natureza.
Incentivar as(os) estudantes a refletirem sobre suas próprias histórias, culturas e línguas enquanto sujeitos pertencentes a uma coletividade.

ETAPA 1:
Sensibilização sobre aspectos da cultura indígena (2 aulas)

Objetivos:
Levantamento de conhecimentos prévios sobre as narrativas e literatura indígena.
Compartilhar algumas características da cultura indígena.

Atividade
Escreva no quadro ou apresente em forma impressa palavras de línguas estrangeiras que estão presentes no nosso cotidiano, como like, download, notebook, crush, bike, delivery, e-mail, play, fashion, fake. Inicie uma discussão e pergunte às(os) alunas(os) se conhecem o significado e a língua originária delas.

Em seguida, escreva palavras como tapioca, curumim, carioca, pindaíba, jururu, pipoca, inhaca, jacaré, capenga, pereba e faça a mesma pergunta. A interação verbal deve ser constante para manter um diálogo aberto e possibilitar que estudantes mobilizem conhecimentos prévios sobre as culturas indígenas. Da mesma forma como foi feito com palavras de origem inglesas, pergunte às(aos) estudantes se conhecem os significados e origens destas novas palavras.

Incentive a turma a falar o que sabe sobre a contribuição dos povos indígenas para a cultura brasileira, como o hábito de tomar banho todos os dias, dormir em rede, comer farinha de mandioca. Observe se vão saber com maior facilidade a origem das palavras estrangeiras e não as de origem indígena e levante hipóteses para isso. Observe ainda se a turma identifica que algumas dessas palavras, muitas vezes bastante usuais no português, são, na verdade, de origem indígena. Após as falas das(dos) estudantes, ressalte que as palavras indígenas citadas são originadas do Tupi, uma dentre as cerca de 350 faladas no Brasil que sobreviveram ao processo de colonização iniciado em 1500, e que formam o português falado no país.

Escreva as palavras Saci Pererê, Boto, Curupira, Caipora, Guaraná, Mandioca, Vitória-Régia e solicite que digam o que sabem sobre elas. Comente que as palavras e personagens apresentados por último são considerados narrativas de origens, ou seja, histórias que contam como cada povo concebe o mundo, os animais, os seres humanos, a natureza, os costumes, religiosidades e espiritualidades de sua cultura surgiram.

Ressalte que por muito tempo as literaturas indígenas têm sido descritas de forma equivocada como folclore, mitos ou lendas, fazendo com que participem de um lugar menor na cultura brasileira, sem prestar o devido valor e reconhecimento às narrativas que fazem parte das culturas, das artes e das espiritualidades dos povos indígenas.

Explique que a representação da Literatura Indígena apenas como folclórica, alimentada por mitos e lendas, é uma visão redutora e equivocada de uma expressão que abarca em si a memória, a história, a espiritualidade e a ancestralidade dos povos originários.
Clique aqui e leia o texto “Folclore brasileiro versus Literatura Indígena: entenda a diferença”, de Julie Dorrico.

Para enriquecer o diálogo com as(os) estudantes, apresente as definições das palavras “folclore”, que é derivada do inglês “folk-lore” e cuja etimologia quer dizer “conhecimento/saber do povo” de forma genérica. Problematize ainda o uso das palavras “mitos” e “lendas”, que podem ser consideradas sinônimos de mentira ou inverdade, sendo por isso consideradas desrespeitosas para com os povos indígenas e seus conhecimentos e espiritualidades.

A ideia é que percebam que essa diferença de tratamento entre as culturas e línguas indígenas se manifestam no nosso próprio dia a dia e que muitas vezes as culturas e línguas de origens estrangeiras são mais valorizadas e reconhecidas frente às dos povos indígenas, que estão no território que atualmente é o Brasil desde muito antes de 1500.

Explique que, nas próximas aulas, a turma realizará a leitura do conto “A gênese Maraguá e a origem do mundo”, de Yaguarê Yamã, e irá aprender um pouco mais sobre o gênero narrativas de origem, pertencente à Literatura Indígena.

Para saber mais sobre a cultura dos povos indígenas, consulte aqui.
Para consultar mais palavras de origem indígena e seus significados, clique aqui.

ETAPA 2: 
A leitura do conto “A gênese maraguá e a origem do mundo”, de Yaguarê Yamã. (3 aulas)

Objetivos:
Apresentar o autor Yaguarê Yamã e seu conto “A gênese Maraguá e a origem do mundo”.
Iniciar o contato com a literatura indígena.
Incentivar a reflexão acerca do aspecto coletivo das identidades e dos pertencimentos aos lugares e povos.
Apresentar a relação que os povos indígenas estabelecem com a natureza.
Roteiro para a leitura e interpretação coletiva do conto “A gênese Maraguá e a origem do mundo”, do autor Yaguarê Yamã:
Quem é o autor do texto?
Em que lugar a história se passa?
Que personagens surgem na narrativa?
Categorize as personagens em: humanos, animais, vegetais, divinos e híbridos.
Em qual tempo se passa a história?

Atividades
Entregue cópias do texto “A gênese Maraguá e a origem do mundo” e o roteiro sugerido para a leitura e interpretação do conto, ressaltando que as perguntas serão o guia para conhecer o gênero narrativas de origem e a literatura indígena.

Solicite à turma que leia individual e silenciosamente o texto, sublinhando as palavras desconhecidas e as passagens que mais chamaram atenção e buscando responder às perguntas da folha de atividades, atentando para o fato de que ao final do texto há um vocabulário.

Em seguida, peça que a turma se organize em grupos e conversem sobre as palavras sublinhadas e trechos destacados durante a leitura individual, além de compartilhar as impressões e respostas dadas por cada estudante para as questões propostas.

Após a partilha em grupo, faça uma leitura coletiva do conto. Esta atividade pode ser realizada em roda, criando, assim, uma atmosfera mais intimista para receber a história, sugerindo que as(os) alunas(os) se revezem para ler.

Converse com a turma sobre as palavras e trechos destacados do textos nos momentos de leitura individual e partilha com colegas, e inicie a resolução coletiva da folha de atividade. A maioria das palavras destacadas por estudantes provavelmente serão os nomes do povo Maraguá, dos personagens da narrativa e dos lugares. É uma boa oportunidade para apresentar o povo através do próprio autor, respondendo à primeira questão do roteiro. Como subsídio, a professora e o professor podem ler a entrevista de Yaguarê Yamã aqui e destacar algumas características do autor e de suas motivações e objetos de escrita.

Explique que o autor pertence a um movimento que se denomina Literatura Indígena que começou a se fortalecer na década de 1990 e que reúne escritoras e escritores de diversos povos originários que buscam valorizar a identidade e suas culturas. Algumas dessas formas de valorização são a escrita de narrativas de origens antes só contadas oralmente, a adoção do nome do povo indígena ao qual os autores pertencem, como é caso de autores de Daniel Munduruku e Eliane Potiguara, e a manifestação da relação desses povos com a natureza.
Para saber mais sobre Literatura Indígena clique aqui e assista ao vídeo de Julie Dorrico sobre o tema.

Em seguida, explique que a terra indígena em que se passa o conto se localiza no Amazonas, respondendo à segunda questão do roteiro, dando exemplos de representantes da fauna e flora locais que o autor faz referência. Comente que a palavra Maraguá é a junção das palavras Mara (tacape) e Guá (gente), na mesma língua, e que o nome do autor significa “Clã das onças pequenas''.

Conduza a resolução do roteiro junto com a turma, retomando e pontuando as passagens do texto em que são apresentados os materiais que surgem nas florestas, os quadrúpedes, os animais dos charcos, os peixes, as aves, os homens e mulheres. A partir das questões 3 e 4 do roteiro, instigue as(os) alunas(os) e pergunte se, levando em consideração as matérias de origem dos personagens, não seria possível considerar todos híbridos a partir da narrativa?

A ideia é que percebam que todos passamos por transformações até chegar na condição em que nos encontramos atualmente, e que mesmo sendo pessoas, todas e todos nós guardamos alguma relação com a natureza, mas que nos distanciamos dessa relação com o passar do tempo.

Em relação à quinta questão do roteiro, espera-se que percebam que o tempo da narrativa é antigo, aquele em que os seres foram criados ou em que os seres divinos conviviam com seres humanos

Faça uma síntese das questões colocadas no roteiro, buscando trabalhar os elementos que compõem a narrativa de origens como quem conta, onde se passa, quais personagens estão envolvidos e quando se passa a história.

Em linhas gerais, as narrativas de origem são aquelas que contam como surgiram o universo, o mundo, as pessoas e a natureza. Cada povo possui sua história de origem e o conto lido traz a versão de Yaguarê Yamã e do povo Maraguá. Enfatize que são formas que cada povo encontrou para relembrarem e valorizarem suas relações com seus conhecimentos sobre o lugar onde vivem, sobre a natureza e seus antepassados, fortalecendo sua cultura.

ETAPA 3
Fechamento e sistematização (1 aula)

Após a leitura e interpretação do conto “A gênese Maraguá e a origem do mundo”, é importante retomar as questões respondidas a partir do roteiro, percebendo o quanto a turma compreendeu as características presentes na narrativa de origem, consolidando esses conhecimentos, e levantando impressões gerais das(dos) alunas(os) sobre o texto.
Sugestões de atividades que podem ser desenvolvidas:

Depois de apresentar um pouco da Literatura Indígena a partir da leitura de um conto do autor Yaguarê Yamã, deixamos algumas propostas de atividades que dialogam com essa temática para serem realizadas junto às turmas de estudantes:

Árvore genealógica da origem do mundo segundo a cosmovisão Maraguá:
A partir da leitura do conto “A gênese Maraguá e a origem do mundo”, uma atividade possível seria propor que a turma produza uma árvore genealógica da origem do mundo segundo a cosmovisão Maraguá. Para essa atividade, sugerimos a leitura de outro conto, “Ka'apora’rãga e as mães da mata”, também do autor Yaguarê Yamã, que apresentará mais personagens para enriquecer a composição da árvore genealógica.

Clique aqui para ter acesso ao conto “Ka'apora’rãga e as mães da mata”.

Escrita de uma narrativa de origem:
Após as atividades de leitura e interpretação do conto “A gênese Maraguá e a origem do mundo” e a sistematização das características de uma narrativa de origem, a(o) professor(a) pode propor uma situação de produção para que estudantes exercitem a escrita deste gênero.

Plano de aula sugerido por:
Sony Ferseck é mãe da Amora Fiorotti, poeta, escritora, palestrante, pesquisadora e atualmente professora substituta no curso de Licenciatura Intercultural no Insikiran/UFRR. Co-fundadora junto com Devair Fiorotti da Wei Editora, primeira editora independente do estado de Roraima. Doutoranda em Literatura na UFF, mestre em Literatura, Artes e Cultura Regional e graduada em Letras/Inglês pela UFRR. Além de sua pesquisa, ela se dedica às suas próprias produções literárias como Pouco verbo (2013), Movejo (2020) e Weiyamî: mulheres que fazem sol (2022). É do povo Makuxi.

Fonte: Escrevendo o futuro.


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