quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

“BOOKTUBE: A RESENHA LITERÁRIA COMO ESTRATÉGIA PARA O LETRAMENTO LITERÁRIO” DE VERÔNICA VITÓRIA DE OLIVEIRA SILVA¹


 JESUS, José Geraldo Pereira de; PINTO, Thadeu Menezes; SANTOS, Thiago Robson²

 A dissertação de Verônica Vitória (2019) é fruto de uma pesquisa de intervenção de caráter qualitativo aplicada em turmas de 8º ano da Escola Estadual Manuel Batista, localizada no município de Pará de Minas, com a finalidade de estimular o letramento literário por meio da leitura de textos pertencentes ao gênero conto, e que culminou na produção de resenhas literárias em vídeo, por parte dos alunos, que foram publicadas em um canal específico no YouTube. Segundo a autora, a pesquisa surgiu como uma forma de incentivar seus alunos a ler livros de literatura, após observar que muitos deles não mantinham esse hábito. Diante disso, e por estar se formando em uma pós-graduação de cunho profissional, ela decidiu que associaria esse desejo à utilização de ferramentas tecnológicas, tão presentes no cotidiano dos jovens.

 De forma a efetivar esse trabalho, a autora decidiu adotar o papel de mediadora entre seus alunos e a prática que ansiava que eles adotassem, objetivando, através disso, analisar conceitos literários relacionados à leitura literária, ao papel formador da leitura e à importância da mediação no letramento literário; investigar a experiência de leitura adquirida anteriormente  pelos seus alunos; promover práticas de leitura que valorizem a literatura e estimulem o reconhecimento de seu papel social e formador; mediar a leitura de textos literários, canônicos ou não, analisando sua atemporalidade e as especificidades da arte literária, bem como estimular a socialização das leituras como forma de compartilhar experiências e evocar a sensibilidade.

 O trabalho foi desenvolvido principalmente com base nos apontamentos de Cosson (2006), que define o que é letramento literário e embasa a sequência didática desenvolvida pela autora, que acredita no desenvolvimento de oficinas como estratégia predominante para efetivar um ensino concreto de literatura, que leve em consideração, antes de tudo, um contato prazeroso com a leitura. Além dele, tanto as considerações de Todorov (2009) e Cândido (1998) sobre o caráter humanizador que a literatura pode exercer quanto as falhas e os prejuízos que podem ser causados por um ensino falho de leitura literária, conforme indicados por Soares (2011), foram cruciais para que a autora delimitasse de maneira coerente o caminho que pretendia tomar.

 Por essa razão, a autora busca primeiro explicitar de que forma o ensino de literatura é executado no Brasil. Conforme ela indica, mesmo o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais indica que em seu ensino há

 

uma série de equívocos que costumam estar presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tratá-los como expedientes para servir ao ensino de boas maneiras, dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais, das receitas desgastadas do “prazer do texto”, etc. Postos de forma descontextualizada, tais procedimentos pouco ou nada contribuem para a formação de leitores capazes de reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das construções literárias (BRASIL, 1998, p. 30).

 

Daí, segundo ela, a necessidade de promover um letramento literário legítimo, tendo em vista não só o gosto do aluno pela leitura bem como sua capacidade de verdadeiramente aquilo que ele lê, e meditar sobre de que forma o texto lido se relaciona ao seu meio. Por isso a autora ressalta que

 

dúbia, a literatura provoca no leitor um efeito duplo: aciona a fantasia, colocando frente a frente dois imaginários e dois tipos de vivência interior; mas suscita um posicionamento intelectual, uma vez que o mundo representado no texto, mesmo afastado no tempo ou diferenciado enquanto invenção, produz uma modalidade de reconhecimento em quem lê. Nesse sentido, o texto literário introduz um universo que, por mais distanciado do cotidiano, leva o leitor a refletir sobre a rotina e a incorporar novas experiências (ZILBERMAN, 2008, p. 23).

 Dessa forma, por considerar o letramento literário o “processo de apropriação da literatura enquanto linguagem” (SILVA, 2019, p. 30), a autora opta por essa prática para desenvolver sua sequência didática, embasando-se na definição de Cosson (2014), de que

 

[...] o letramento literário começa com as cantigas de ninar e continua por toda nossa vida a cada romance lido, a cada novela ou filme assistido. Depois, que é um processo de apropriação, ou seja, refere-se ao ato de tomar algo para si, de fazer alguma coisa se tornar própria, de fazê-la pertencer à pessoa, de internalizar ao ponto daquela coisa ser sua. É isso que sentimos quando lemos um poema e ele nos dá palavras para dizer o que não conseguíamos expressar antes (COSSON, 2014, s/p).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Novidade!

Ao Professor, com carinho

Na alegria e no furor... Ele é o Professor. Falando ou xingando, Ele está sempre ensinando... Do alfabeto, ele vai falar E a gente vai escut...