JESUS, José Geraldo Pereira de; PINTO, Thadeu
Menezes; SANTOS, Thiago Robson²
A dissertação de Verônica Vitória (2019)
é fruto de uma pesquisa de intervenção de caráter qualitativo aplicada em
turmas de 8º ano da Escola Estadual Manuel Batista, localizada no município de
Pará de Minas, com a finalidade de estimular o letramento literário por meio da
leitura de textos pertencentes ao gênero conto, e que culminou na produção de
resenhas literárias em vídeo, por parte dos alunos, que foram publicadas em um
canal específico no YouTube. Segundo
a autora, a pesquisa surgiu como uma forma de incentivar seus alunos a ler
livros de literatura, após observar que muitos deles não mantinham esse hábito.
Diante disso, e por estar se formando em uma pós-graduação de cunho
profissional, ela decidiu que associaria esse desejo à utilização de ferramentas
tecnológicas, tão presentes no cotidiano dos jovens.
De forma a efetivar esse trabalho, a
autora decidiu adotar o papel de mediadora entre seus alunos e a prática que
ansiava que eles adotassem, objetivando, através disso, analisar conceitos
literários relacionados à leitura literária, ao papel formador da leitura e à
importância da mediação no letramento literário; investigar a experiência de
leitura adquirida anteriormente pelos
seus alunos; promover práticas de leitura que valorizem a literatura e
estimulem o reconhecimento de seu papel social e formador; mediar a leitura de
textos literários, canônicos ou não, analisando sua atemporalidade e as
especificidades da arte literária, bem como estimular a socialização das
leituras como forma de compartilhar experiências e evocar a sensibilidade.
O trabalho foi desenvolvido
principalmente com base nos apontamentos de Cosson (2006), que define o que é
letramento literário e embasa a sequência didática desenvolvida pela autora,
que acredita no desenvolvimento de oficinas como estratégia predominante para
efetivar um ensino concreto de literatura, que leve em consideração, antes de
tudo, um contato prazeroso com a leitura. Além dele, tanto as considerações de
Todorov (2009) e Cândido (1998) sobre o caráter humanizador que a literatura
pode exercer quanto as falhas e os prejuízos que podem ser causados por um ensino falho de leitura
literária, conforme indicados por Soares (2011), foram cruciais para que a
autora delimitasse de maneira coerente o caminho que pretendia tomar.
Por essa razão, a autora busca primeiro
explicitar de que forma o ensino de literatura é executado no Brasil. Conforme
ela indica, mesmo o texto dos Parâmetros Curriculares Nacionais indica que em
seu ensino há
uma série de equívocos que
costumam estar presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja,
tratá-los como expedientes para servir ao ensino de boas maneiras, dos hábitos
de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos gramaticais, das receitas
desgastadas do “prazer do texto”, etc. Postos de forma descontextualizada, tais
procedimentos pouco ou nada contribuem para a formação de leitores capazes de
reconhecer as sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a
profundidade das construções literárias (BRASIL, 1998, p. 30).
Daí, segundo ela, a necessidade de
promover um letramento literário legítimo, tendo em vista não só o gosto do
aluno pela leitura bem como sua capacidade de verdadeiramente aquilo que ele
lê, e meditar sobre de que forma o texto lido se relaciona ao seu meio. Por
isso a autora ressalta que
dúbia, a literatura provoca no
leitor um efeito duplo: aciona a fantasia, colocando frente a frente dois
imaginários e dois tipos de vivência interior; mas suscita um posicionamento
intelectual, uma vez que o mundo representado no texto, mesmo afastado no tempo
ou diferenciado enquanto invenção, produz uma modalidade de reconhecimento em
quem lê. Nesse sentido, o texto literário introduz um universo que, por mais
distanciado do cotidiano, leva o leitor a refletir sobre a rotina e a
incorporar novas experiências (ZILBERMAN, 2008, p. 23).
Dessa forma, por considerar o letramento
literário o “processo de apropriação da literatura enquanto linguagem” (SILVA,
2019, p. 30), a autora opta por essa prática para desenvolver sua sequência
didática, embasando-se na definição de Cosson (2014), de que
[...] o letramento literário
começa com as cantigas de ninar e continua por toda nossa vida a cada romance lido,
a cada novela ou filme assistido. Depois, que é um processo de apropriação, ou
seja, refere-se ao ato de tomar algo para si, de fazer alguma coisa se tornar
própria, de fazê-la pertencer à pessoa, de internalizar ao ponto daquela coisa
ser sua. É isso que sentimos quando lemos um poema e ele nos dá palavras para
dizer o que não conseguíamos expressar antes (COSSON, 2014, s/p).
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