domingo, 24 de setembro de 2023

PROVA DE PORTUGUÊS - 1º ANO DO ENSINO MÉDIO: ROMANTISMO, VERBOS, ARTIGO CIENTÍFICO, ASPECTOS VERBAIS, CORRELAÇÃO VERBAL

Questão 01

“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.

O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.

Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.”

Marque a alternativa que aponta a característica do Romantismo presente no fragmento do Romance “Iracema”, de José de Alencar.

A) Idealização da personagem mediante a associação entre aspectos humanos e elementos da natureza.
B) Valorização do regionalismo por meio do registro de palavras e expressões típicas do vocabulário regional.
C) Enaltecimento do indígena com o emprego do locus amoenus exigível em cenas da natureza das narrativas clássicas.
D) Empoderamento de minorias marginalizadas por meio da escolha de uma mulher morena e indígena para o protagonismo da narrativa.

E) Reflexão crítica sobre a formação do povo brasileiro mediante a identificação de uma mulher como verdadeira representante de nossas origens indígenas.

Questão 02

Meu sonho

Eu
Cavaleiro das armas escuras,
Onde vais pelas trevas impuras
Com a espada sanguenta na mão?
Por que brilham teus olhos ardentes
E gemidos nos lábios frementes
Vertem fogo do teu coração?

(...)

Cavaleiro, quem és? − que mistério,
Quem te força da morte no império
Pela noite assombrada a vagar?

O FANTASMA
Sou o sonho de tua esperança,
Tua febre que nunca descansa,
O delírio que te há de matar!...
(Álvares de Azevedo)

(...) Sobretudo se nos reportarmos ao título: o sujeito do enunciado estaria descrevendo um sonho, onde se vê a angústia devida à frustração das aspirações, corporificada num cavaleiro que galopa pelo reino da morte.

(Na Sala de Aula – Caderno de Análise Literária, de Antonio Candido, Editora Ática, Série Fundamentos, 1989, p. 39)

Considere o fragmento do poeta Álvares de Azevedo, o período literário em que ele está inserido e o comentário do crítico literário Antonio Candido. A partir das considerações, marque a afirmação incorreta.


A) Imagens como “noite assombrada” e “da morte no império” estão de acordo com o tom macabro da 2.ª geração do Romantismo no Brasil.

B) Segundo o crítico, a evasão no sonho para o eu lírico seria uma estratégia para atingir o mundo metafísico e compensar a existência desagradável.

C) A exacerbação das emoções e das paixões, típicas do movimento romântico, está evidente nas passagens “olhos ardentes” e “fogo do teu coração”.

D) A referência à morte é tema constante em Álvares de Azevedo; o desencanto da vida leva o indivíduo a querer antecipar seu fim existencial.

E) Antonio Candido fala do título do poema e da identificação do eu lírico com o sonho; o ser romântico é voltado para si próprio e para o mundo onírico, da fantasia.

Questão 03

Em relação à poesia do Romantismo brasileiro analise o esquema abaixo. Em seguida, analise as afirmações que constam nas alternativas.

Um quadro que dê conta da poesia romântica brasileira pode ser sintetizado conforme o seguinte esquema:

- a 1ª. geração é chamada de ‘nacionalista ou indianista’;

- a 2ª. geração é conhecida como a ‘ultrarromântica’;

- a 3ª. geração é denominada de ‘condoreira’.

1) Os representantes da 1ª. geração escolheram como tema a natureza tropical, o patriotismo e o elemento indígena brasileiro.

2) Foi destaque entre os poetas da primeira geração, o poeta Gonçalves Dias, autor do conhecido poema Canção do Exílio.

3) Os representantes da 2ª. geração alimentaram uma visão pessimista da vida e da sociedade. Têm como expoentes Casimiro de Abreu e José de Alencar.

4) Os representantes da 3ª. geração destacaram-se por uma literatura de caráter social, que denunciava a desigualdade social e defendia a liberdade.

5) Na 3ª. geração, merece destaque o poeta Castro Alves, que, em seu poema Navio Negreiro critica com veemência a escravidão que imperava no Brasil.

Estão corretas as alternativas:

A) 1, 2, 3, 4 E 5
B) 1, 2, 4 E 5 apenas
C) 1, 3, 4 E 5 apenas
D) 2 E 3 apenas
E) 3 E 5 apenas

Questão 04

Feliz por nada

Geralmente, quando uma pessoa exclama “Estou tão feliz!”, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.

Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.

Feliz por nada, nada mesmo? Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza. “Faça isso, faça aquilo”. A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?

Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando “realizado”, também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.

Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.

Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?

A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.  Ser feliz por nada talvez seja isso.

MEDEIROS, Martha. Felicidade crônica. 15.ed. Porto Alegre: L&PM, 2016. p. 86-87.

Determinadas categorias gramaticais podem produzir diferentes efeitos de sentido nos contextos em que estão inseridas, como é o caso dos verbos. Alguns deles, em tempos simples ou integrando uma locução verbal, podem denotar ideias ou “matizes” denominados aspectos. Examine as alternativas e indique em qual delas o aspecto verbal está INCORRETAMENTE analisado:

A) No excerto “ter que responder ao mundo quais são suas qualidades” (l. 31-32), a expressão em destaque indica ideia de “obrigação” em relação ao que se é preciso fazer para ser feliz.
B) “De querer se adequar à sociedade” (l. 28) – O uso do infinito “querer”, no 6º parágrafo, traz para o contexto o valor semântico de “vontade”, sugerindo que essa adequação não é imposta, ao contrário, configura-se num desejo por parte do indivíduo.
C) Na linha 4, o trecho “Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo” apresenta o verbo auxiliar da locução verbal “costumo torcer” (l. 1-3), no presente do indicativo, com a ideia de “fato habitual, frequente”.
D) No fragmento “Mas não estando alegre, é possível ser feliz também.” (l. 17-18), com o verbo de ligação no gerúndio, pretende-se demonstrar a situação em curso como um aspecto concluído.
E) No 6º parágrafo, a forma verbal “sejamos” (l. 27), embora esteja conjugada no modo subjuntivo, no contexto, marca uma sugestão imperativa.

Questão 05. Enem (adaptado)

Levando em conta o aspecto do verbo na frase: “crianças de oito anos podem manusear armas de fogo”, afirma-se que a forma verbal destacada está no presente

A) Momentâneo, pois se refere ao manuseio de armas no momento da fala.
B) Histórico, pois se refere a fatos sobre crimes ocorridos nos passado.
C) Frequentativo, pois se refere a um fato que se repete ao longo do tempo no noticiário criminal.
D) Universal, pois se refere à permissão do manuseio tida como uma verdade supostamente aceita por todos.
E) No lugar do futuro, pois a permissão para o manuseio de armas se dará em época próxima.

Questão 06

O presbítero Eurico era o pastor da pobre paróquia de Carteia. Descendente de uma antiga família bárbara, gardingo1 na corte de Vítiza, depois de ter sido tiufado2 ou milenário3 do exército visigótico vivera os ligeiros dias da mocidade no meio dos deleites da opulenta Toletum. Rico, poderoso, gentil, o amor viera, apesar disso, quebrar a cadeia brilhante da sua felicidade. Namorado de Hermengarda, filha de Favila, duque de Cantábria, e irmã do valoroso e depois tão célebre Pelágio, o seu amor fora infeliz. O orgulhoso Favila não consentira que o menos nobre gardingo pusesse tão alto a mira dos seus desejos. Depois de mil provas de um afeto imenso, de uma paixão ardente, o moço guerreiro vira submergir todas as suas esperanças. Eurico era uma destas almas ricas de sublime poesia a que o mundo deu o nome de imaginações desregradas, porque não é para o mundo entendê-las. Desventurado, o seu coração de fogo queimou-lhe o viço da existência ao despertar dos sonhos do amor que o tinham embalado. A ingratidão de Hermengarda, que parecera ceder sem resistência à vontade de seu pai, e o orgulho insultuoso do velho prócer4 deram em terra com aquele ânimo, que o aspecto da morte não seria capaz de abater. A melancolia que o devorava, consumindo-lhe as forças, fê-lo cair em longa e perigosa enfermidade, e, quando a energia de uma constituição vigorosa o arrancou das bordas do túmulo, semelhante ao anjo rebelde, os toques belos e puros do seu gesto formoso e varonil transpareciam-lhe a custo através do véu de muda tristeza que lhe entenebrecia a fronte. O cedro pendia fulminado pelo fogo do céu.

Educado na crença viva daqueles tempos; naturalmente religioso porque poeta, foi procurar abrigo e consolações aos pés d’Aquele cujos braços estão sempre abertos para receber o desgraçado que neles vai buscar o derradeiro refúgio. Ao cabo das grandezas cortesãs, o pobre gardingo encontrara a morte do espírito, o desengano do mundo. A cabo da estreita senda da cruz, acharia ele, porventura, a vida e o repouso íntimos?

O moço presbítero, legando à catedral uma porção dos senhorios que herdara juntamente com a espada conquistadora de seus avós, havia reservado apenas uma parte das próprias riquezas. Era esta a herança dos miseráveis, que ele sabia não escassearem na quase solitária e meia arruinada Carteia.

(Alexandre Herculano. Eurico, o presbítero, 1988)

1 gardingo: nobre visigodo que exercia altas funções na corte dos príncipes
2 tiufado: o comandante de uma tropa de mil soldados, no exército godo
3 milenário: seguidor da crença de que a segunda vinda de Cristo se daria no ano 1000
4 prócer: indivíduo importante, influente; magnata

No trecho – A ingratidão de Hermengarda, que parecera ceder sem resistência à vontade de seu pai... (1° parágrafo) –, mantém-se a expressão em destaque inalterada, com o uso do acento indicativo da crase, se o verbo “ceder” for substituído por

A) Atender.               B) Concordar.              C) Discordar.       D) Afastar-se.          E) Contestar.

Questão 07
Sinais
Por milênios o homem foi caçador. Durante inúmeras perseguições, ele aprendeu a reconstruir as formas e movimentos das presas invisíveis pelas pegadas na lama, ramos quebrados, bolotas de esterco, tufos de pêlos, plumas emaranhadas, odores estagnados. Aprendeu a farejar, registrar, interpretar e classificar pistas infinitesimais como fios de barba. Aprendeu a fazer operações mentais complexas com rapidez fulminante, no interior de um denso bosque ou numa clareira cheia de ciladas.

Gerações e gerações de caçadores enriqueceram e transmitiram esse patrimônio cognoscitivo. Na falta de uma documentação verbal para se pôr ao lado das pinturas rupestres e dos artefatos, podemos recorrer às narrativas de fábulas, que do saber daqueles remotos caçadores transmitem-nos às vezes um eco, mesmo que tardio e deformado. Três irmãos (narra uma fábula oriental, difundida entre os quirguizes, tártaros, hebreus, turcos...) encontram um homem que perdeu um camelo – ou, em outras variantes, um cavalo. Sem hesitar, descrevem-no para ele: é branco, cego de um olho, tem dois odres nas costas, um cheio de vinho, o outro cheio de óleo. Portanto, viram-no? Não, não o viram. Então são acusados de roubo e submetidos a julgamento. É, para os irmãos, o triunfo: num instante demonstram como, através de indícios mínimos, puderam reconstruir o aspecto de um animal que nunca viram.

Os três irmãos são evidentemente depositários de um saber de tipo venatório* (mesmo que não sejam descritos como caçadores). O que caracteriza esse saber é a capacidade de, a partir de dados aparentemente negligenciáveis, remontar a uma realidade complexa não experienciável diretamente. Pode-se acrescentar que esses dados são sempre dispostos pelo observador de modo tal a dar lugar a uma seqüência narrativa, cuja formulação mais simples poderia ser “alguém passou por lá”. Talvez a própria idéia de narração (distinta do sortilégio, do esconjuro ou da invocação) tenha nascido pela primeira vez numa sociedade de caçadores, a partir da experiência da decifração das pistas. O fato de que as figuras retóricas sobre as quais ainda hoje se funda a linguagem da decifração venatória – a parte pelo todo, o efeito pela causa – são reconduzíveis ao eixo narrativo da metonímia, com rigorosa exclusão da metáfora, reforçaria essa hipótese – obviamente indemonstrável. O caçador teria sido o primeiro a “narrar uma história” porque era o único capaz de ler, nas pistas mudas (se não imperceptíveis) deixadas pela presa, uma série coerente de eventos.

(GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais. S. Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 151–2.) 
*Venatório: relativo à caça e seu universo.

Indique a alternativa que explicita a hipótese indemonstrável mencionada na antepenúltima linha do texto.

A) Os caçadores eram capazes de reconstituir uma realidade complexa a partir das histórias que ouviam.
B) As fábulas transmitiam histórias de caçadores e, por isso, apresentavam em geral decifrações de pistas.
C) A narração teve origem em uma sociedade de caçadores.
D) Os caçadores primitivos faziam operações mentais com grande rapidez.
E) Os caçadores tinham sucesso em sua empreitada porque sabiam contar histórias.

Questão 08

Para que se compreenda bem a maneira como são escolhidas e utilizadas as formas verbais nos enunciados da língua portuguesa, é importante que se leve em conta uma noção muito importante: o aspecto verbal.
Nesse sentido, em “A própria filha do engenheiro residente da estrada de ferro, que VIVIA DESDENHANDO aquele lugarejo” a forma verbal destacada marca o aspecto:


A) Perfectivo momentâneo.
B) Perfectivo terminativo
C) Perfectivo incoativo.
D) Perfectivo resultativo.
E) Perfectivo cursivo


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Novidade!

Prova de estudos independentes do sétimo ano - com GABARITO

Questão 01 Leia este texto sobre a importância da atividade física para as crianças. Em seguida, relacione as palavras sublinhadas. A im...