terça-feira, 24 de setembro de 2024

15 anos folclóricos

 15 anos folclóricos

É agosto do ano dois mil e alguns trezes. Uma adolescente, chamada Iara, prepara-se para uma festa debutante. Ela vai à mãe, dona Curupira, para verificar como andam os preparativos.

Mãe, conforme combinamos, a minha festa de 15 anos terá picanha com cervejinha; e não venha me dizer que não vai ser possível.
- Acho que não vai dar, minha filha! Eu fui enganada por aquele Pato Rouco mentiroso.
- Como assim, mamãe? Eu esperei quinze anos por essa festa!
- Desculpe, minha filha! Não teremos picanha com cervejinha. Aquele mentiroso deve fazer parte do folclore brasileiro, portanto, querida Iara, você deverá preparar a sua festa de conforme a nossa tradição. Vamos fazer pirões de peixes para servir aos convidados. Eu já convidei três tribos vizinhas. Será uma festa inesquecível.
- Mas, o pescado, mamãe?
- É uma tradição da nossa tribo: quem faz aniversário é responsável pela pescaria; logo você precisa ir ao rio e providenciar os peixes.
- Mamãe, essa tradição ainda é válida? Hoje nós usamos celular, andamos de carro ...
- Sim, minha filha! Mas precisamos manter a nossa cultura viva no Brasil. Os brancos já nos furtaram muitas coisas culturais. Já que os deuses não permitiram que fizéssemos uma festa tradicional branca, com picanha e cervejinha, vamos seguir os ritos da tribo.

Uma orientação dada, orientação comprida. A adolescente sai para realizar a pesca e chega à beira de um rio. Um mundo de águas pela frente! É o Rio Amazonas! A garota prepara as redes. Neste ínterim, ela avista um vulto dentro da água. Parece ser um grande peixe. A menina lança a armadilha aquática. Ka bum! Um peixe foi pescado. A moça se esforça para trazer o animal até à beira do rio. E consegue! No entanto, ao observar bem o ser, percebe que é um lindo rapaz. 

Após soltá-lo da rede, os dois começam a conversar. Iara se desculpa pelo ocorrido. O rapaz a agradece por salvá-lo de um afogamento. A menina conta o motivo de estar à beira do rio. Entre muitas conversas, eles buscam a intimidade ao ponto da debutante convidá-lo para a festa de quinze anos. Ele aceita. Animado com o convite, o rapaz de pele rosa se oferece para ajudá-la na pescaria.

Houve grande colheita de peixes, sendo necessária a ajuda. O rapaz está pronto para conduzir os peixes à aldeia.

Ao chegarem à oca! Dona Curupira sai para ver a menina e se assusta com o acompanhante.

- O que está acontecendo, menina? Quem é esse homem vestido de Boto cor-de-rosa que está com você?
- Que é isso, mamãe? Não há ninguém vestido de Boto cor-de-rosa neste lugar? A senhora está bem?
- Sou eu quem te pergunto, filha. Você está me dizendo que... esse Boto não é Boto?
- Não! Ele é meu amigo!
- Seu amigo se veste de Boto no carnaval?
- Não, mamãe. 
-  Onde você achou essa coisa rosa? 
- É o seguinte. Eu estava pescando e quando joguei a rede, acabei retirando ele da água do rio. O coitado estava se afogando no Amazonas! Coitadinho! Eu o salvei.

Nesse momento, Dona Curupira se lembrou das Lendas contadas pelos ancestrais. Elas diziam que quando uma garota fosse completar 15 anos, essa seria seduzida por um Boto. Certamente aquele ser que está ao lado da menina era o tal do Boto Rosa. Pensou e desmaiou.

Iara corre para junto da mãe. Está muito preocupada, pois, percebe que a senhora está sem pulsos. Enquanto socorre a genitora, percebe que o rapaz desaparece. Quis chamá-lo, mas não se lembra do nome dele, mesmo porque jamais perguntou.

A festa aconteceu conforme previsto. Houve pirões de pescados e muitas danças típicas. A comunidade compareceu, e todos ficaram felizes com a festa, menos a aniversariante, pois o principal convidado não estava presente na festa.

Depois dos quinze anos, todos os dias Iara comparecia à beira do rio em busca do belo rapaz cor-de-rosa, mas nunca mais voltou a vê-lo.

Autor: Geraldo Genetto Pereira

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