Treinando questão abertas para USP e Unicamp - PARTE 1

Q 1 ( USP) . Leia seguinte texto, que trata das diferenças entre fala e escrita:

Talvez ainda mais digno de atenção seja o desaparecimento [na escrita] da mímica e das inflexões ou variações do tom da voz. A sua falta tem de ser suprida por outros recursos.

É, neste sentido, que se torna altamente instrutiva a velha anedota, que nos conta a indignação de um rico fazendeiro ao receber de seu filho um telegrama com a frase singela – “mande−me dinheiro”, que ele lia e relia emprestando−lhe um tom rude e imperativo. O bom homem não era tão néscio quanto a anedota dá a entender: estava no direito de exigir da formulação verbal uma qualidade que lhe fizesse sentir a atitude filial de carinho e respeito e de refugar uma frase que, sem a ajuda de gestos e entoação adequada, soa à leitura espontaneamente como ríspida e seca.

J. Mattoso Câmara Jr., Manual de expressão oral e escrita. Adaptado.


a) Considerando−se que o verbo da frase do telegrama está no imperativo, se essa mesma frase fosse dita em uma conversa telefônica, haveria possibilidade de o pai entendê−la de modo diferente? Explique.

b) Reescreva a frase do telegrama, acrescentando−lhe, no máximo, três palavras e a pontuação adequada, de modo a atender a exigência do pai, mencionada no texto.

Q2 9 (USP) . Avalie a redação das seguintes frases:

I. O futebol conquistou um papel na sociedade tanto culturalmente como econômico e político.

II. Os clubes buscam a expansão do número de associados bem como reduzir gastos com publicidade.

III. Doravante tais fatos, fica claro que o futebol exerce uma grande influência no cotidiano do brasileiro
.

IV. O técnico declarou aos jornalistas que, para o próximo jogo, ele tem uma carta na manga do colete.

a) Reescreva as frases I e II, corrigindo a falta de paralelismo nelas presente.

b) Reescreva as frases III e IV, eliminando a inadequação vocabular que elas apresentam.

Q3 (USP) Considere o seguinte texto, para atender ao que se pede:


        O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito; a vaidade, a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à primeira vista compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os outros, sem a consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em ação.

Fernando Pessoa, Da literatura europeia.


a) Considerando−a no contexto em que ocorre, explique a frase “o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior”.


b) Reescreva a frase “O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é”, substituindo por sinônimos as expressões sublinhadas.

Q4 (USP) 

Entrevistado por Clarice Lispector, para a pergunta “Como você encara o problema da maturidade?”, Tom Jobim deu a seguinte resposta: “Tem um verso do Drummond que diz: ‘A madureza, esta horrível prenda...’ Não sei, Clarice, a gente fica mais capaz, mas também mais exigente”.


Nota: O verso citado por Tom Jobim é o início do poema “A ingaia ciência”, de Carlos Drummond de Andrade, e sua versão correta é: “A madureza, essa terrível prenda”.

a) Aponte dois reursos expressivos empregados pelo poeta na expressão “terrível prenda”.

b) Reescreva a resposta de Tom Jobim, eliminando as marcas de coloquialidade que ela apresenta e fazendo as alterações necessárias
Q5 (USP) Leia o seguinte texto, para atender ao que se pede:

Conversa de abril
É abril, me perdoareis. Estou completamente cansado. Retorno à aldeia depois de três dias de galope de jipe pelas estradas confusas de caminhões e poeira e explosões. Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que vos descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os seres humanos neste tempo de primavera? Deixai− me estirar o corpo na cama; depois tiro as botas. Ouvi−me. As montanhas, já vos descreverei as montanhas.
Rubem Braga*

*Rubem Braga foi correspondente de guerra junto à FEB, Força Expedicionária Brasileira, durante a Segunda Guerra Mundial. O fragmento acima pertence a uma de suas crônicas desse período.

a) Reescreva o seguinte trecho, dando−lhe características narrativas e empregando a terceira pessoa do plural, em lugar da segunda:

“Tenho no bolso um caderno de notas. Quereis que vos descreva essas montanhas e vales, e o que fazem os seres humanos neste tempo de primavera?”

b) Tendo em vista as informações contidas no excerto, o início do texto – “É abril” – é coerente com o emprego do pronome este, em “neste tempo de primavera”? Explique.

Q6 (USP). Leia o seguinte trecho de uma reportagem, para em seguida atender ao que se pede:

Cantoria de sabiá−laranjeira na madrugada divide ouvidos paulistanos

Diz uma antiga lenda indígena que, durante as madrugadas, no início da primavera, quando uma criança ouve o canto de um sabiá−laranjeira, ela é abençoada com amor, felicidade e paz. Isso lá na floresta. Na selva urbana, a história é outra: tem gente se revirando na cama com a sinfonia que chega a durar duas horas seguidas antes mesmo de clarear o dia.

“Morei 35 anos no interior paulista e nunca fui acordada por passarinho algum”, conta uma moradora do Brooklin (zona sul). “Agora, em plena São Paulo barulhenta e caótica, minhas madrugadas têm sido bem diferentes”.

Folha de S. Paulo, 16/09/2013. Adaptado.

a) Tendo em vista o contexto, é possível concluir, de modo irrefutável, que a citada moradora do Brooklin faz parte dos paulistanos que não apreciam o canto do sabiá−laranjeira? Justifique com base no texto.

b) Reescreva os trechos do texto que se encontram em discurso direto, empregando o discurso indireto e fazendo as modificações necessárias.
Q7 (USP) Leia breve “Prólogo da 3ª edição” das Memórias póstumas de Brás Cubas, assinado pelo autor, Machado de Assis, constava o seguinte trecho:

Capistrano de Abreu, noticiando a publicação do livro, perguntava: “As Memórias póstumas de Brás Cubas são um romance?” Macedo Soares, em carta que me escreveu por esse tempo, recordava amigamente as Viagens na minha terra. Ao primeiro respondia já o defunto Brás Cubas (como o leitor viu e verá no prólogo dele que vai adiante) que sim e que não, que era romance para uns e não o era para outros. Quanto ao segundo, assim se explicou o finado: “Trata−se de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo”. Toda essa gente viajou: Xavier de Maistre à roda do quarto, Garrett na terra dele, Sterne na terra dos outros. De Brás Cubas se pode talvez dizer que viajou à roda da vida.

O que faz do meu Brás Cubas um autor particular é o que ele chama “rabugens de pessimismo”. Há na alma deste livro, por mais risonho que pareça, um sentimento amargo e áspero, que está longe de vir dos seus modelos. É taça que pode ter lavores de igual escola, mas leva outro vinho.

Machado de Assis

Considerando esse trecho no contexto da obra à qual se incorpora, atenda ao que se pede.

a) Identifique um aspecto das Memórias póstumas de Brás Cubas capaz de ter suscitado a dúvida expressa por Capistrano de Abreu. Explique resumidamente.

b) Em que consistem os “lavores de igual escola”, a que se refere o autor, no final do trecho? Explique sucintamente.
Q7 (USP) . Considere o excerto abaixo, no qual o narrador de A cidade e as serras, de Eça de Queirós, contempla a cidade de Paris.

 (...) E por aquela doce tarde de maio eu saí para tomar no terraço um café cor de chapéucoco, que sabia a fava. Com o charuto aceso contemplei o Boulevard, àquela hora em toda a pressa e estridor da sua grossa sociabilidade. A densa torrente dos ônibus, calhambeques, carroças, parelhas de luxo, rolava vivamente, com toda uma escura humanidade formigando entre patas e rodas, numa pressa inquieta. Aquele movimento indescontinuado e rude depressa entonteceu este espírito, por cinco quietos anos afeito à quietação das serras imutáveis. Tentava então, puerilmente, repousar nalguma forma imóvel, ônibus que parara, fiacre que estacara num brusco escorregar da pileca; mas logo algum dorso apressado se encafuava pela portinhola da tipoia, ou um cacho de figuras escuras trepava sofregamente para o ônibus — e, rápido, recomeçava o rolar retumbante.


a) No trecho “com toda uma escura humanidade formigando entre patas e rodas”, pode−se reconhecer a marca de qual escola literária? Justifique sucintamente sua resposta.

b) Tendo em vista que contemplar significa “fixar o olhar em (alguém, algo ou si mesmo), com encantamento, com admiração” (Dicionário Houaiss) ou “olhar, observar, atenta ou embevecidamente” (Dicionário Aurélio), qual é a experiência vivida pelo narrador, no excerto, e que sentido ela tem no contexto da época em que se passa a história narrada no romance?
Q8 (USP). No poema “Sentimento do mundo”, que abre o livro homônimo de Carlos Drummond de Andrade, dizem os versos iniciais:

Tenho apenas duas mãos 
e o sentimento do mundo,

Considerando esses versos no contexto da obra a que pertencem, responda ao que se pede.

a) Que desejo do poeta fica pressuposto no verso “Tenho apenas duas mãos”?

b) No poema de abertura do primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade – Alguma poesia (1930) – apareciam os conhecidos versos

Mundo mundo vasto mundo 
mais vasto é meu coração.

Quando, anos depois, o poeta afirma ter “o sentimento do mundo”, ele ratifica ou altera o ponto de vista que expressara nos citados versos de seu livro de estreia? Explique sucintamente.


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