Uma família estranha

 Há muitos e muitos anos, havia uma família que era muito estranha. Essa família era composta por treze pessoas: nove filhos, o pai e mãe e dois primos. A casa era enorme, pois ali morava uma grande família que cresceu ainda mais com a chegada dos dois primos, pois seus pais haviam morrido em um acidente automobilístico; com isso houve a adoção das crianças pelos tios. Todas as sextas-feiras a noites eles se reuniam em volta de uma fogueira e ficavam ali até altas horas, contando histórias de terror.

Eram muito animados: tocavam instrumentos, cantavam e contavam histórias. Eram muito felizes. As histórias pareciam tão reais que eles entravam na casa amedrontados, pois isso as crianças dormiam em um mesmo quarto. Porém, mesmo assim, na alta madrugada aparecia algo para assombrá-las. Quem mais sofria com as perturbações noturnas era a coitada da Maria Júlia, a filha do meio da família. Numa noite de sexta-feira, dia treze do mês, na alta madrugada, ouviu-se um grito:

—Socorro! Ave Maria! Cruz credo! Ai, ai, ai! Creio em Deus pai...

Todos acordaram com aquela gritaria sem fim. Aquele terror acordara até os vizinhos, que correram para ver o que se passava naquela casa. A verdade é que todos os vizinhos achavam aquela família muito esquisita: reunir toda sexta-feira para contar história de terror era algo muito incomum às pessoas normais.

—O que foi Maria? O que foi agora? Perguntou alguém.
— Eu vi um clarão muito forte e esse clarão entrou no meu quarto. Eu acho que era um disco voador e ele veio me buscar.
—Ai meu Deus! Ave Maria! Falou o João, o filho mais velho.
— Será que era mesmo? Perguntou uma vizinha que entrara na conversa.
Continuou:
—Deve ser mesmo. É esquisito igual à ocês ê, deve ser do outro mundo. Vão bora daqui meu fio. Vão sair dessa casa, antes que esse povo pega nóis.
Então um primo de Maria, o adotivo da família, disse:
—Eu acho que é meu pai e minha mãe que veio buscar eu e meu irmão.

O pavor tomou conta da casa e muitos se ajoelharam e começaram a rezar em voz alta:
—Ave Maria! Cruz credo! Creio em Deus pai...
E fazendo o sinal da cruz, os pais dos meninos pareciam não entender nada. Também era desejo das crianças que o assunto não repercutisse aos ouvidos dos pais, pois temiam que eles os proibissem de frequentar fogueira e de ouvirem histórias de terror.

Os dias se passaram e a reunião junto à fogueira prosseguiu durante todo o inverno. Ouviram histórias e mais histórias de terror, que eram contadas até próximo à meia noite. A essa altura as crianças estavam exaustas de sono. Em uma madrugada, Maria acorda todos da casa com a mesma gritaria:

—Socorro! Cruz credo, credo em cruz! Creio em Deus pai...
Os primos foram os primeiros a chegar junto a Maria. Então um deles disse:
—Agora eu vi; é o meu pai e a minha mãe.

Então a maioria das crianças cobria a cabeça e gritava muito e, mesmo com as cabeças cobertas perceberam que um casal aproximava deles. O clarão ficou mais intenso.
—Credo em cruz! Sai Capeta! - Disse o João.
—Não é Capeta, são meus pais. - Disse um dos meninos adotivos.
—Desculpa-me Carlinho. Sai assombração! - Continuou o João.
—Mas não é assombração, são nossos pais. - Alertou o menino.
—Mas eles já morreram, então são fantasmas. - Replicou João.

Em um átimo de tempo, uma mão tocou a Maria e ela desmaiou. Então ouviram e reconheceram uma voz que dizia bem alto:
— Carma meninos. Sou eu, seus bobos. Sou a mãe d’ocês uai; toda a noite eu venho ver se ocês tá bein, cambada de bobos.

Aquela mulher passou algo no nariz de Maria, mas a menina não acordou do susto. Passando-se algumas horas e nada de Maria retornar a si. Carlinho começou a chorar e dizer bem alto:
— Minha mãe levou a pessoa errada. Ela veio me buscar e levou a pobre Maria.
Dona Antônia, sua tia, disse:
— Vira sua boca pro mato, menino; Maria não morreu não e, alma de outro mundo não volta aqui não. Tudo que ocês viram, gente, era eu.

Antônia e seu Marido pegaram a Maria Julia e levaram para o rio, para jogá-la na água fria. Foi só assim que a menina conseguiu despertar depois do susto. Mas acordou gritando:
—Socorro! É uma assombração! Socorro!!!! Socorro!!!!!!!!

A mãe deu-lhe um tapa na cara para que saísse do susto. Então Maria Júlia começou a chorar e Dona Antônia resolveu contar a todos o que havia acontecido. Seus filhos começaram a interrogá-la:
—E aquele Clarão que a gente viu? - Perguntou o Pedro.
—E a mão que passou na cabeça de Maria? - Perguntou o Rafael.
—E os passos que a gente ouviu? - Perguntou a Gina.
Calmamente respondeu Dona Antônia:
—Se ocês deixar, eu posso explicar tudo.

Então Dona Antônia explicou tudo para eles. Assim aquelas crianças conseguiram entender que tudo não passou de um simples engano. O clarão era a vela acesa na mão de dela; a mão na cabeça de Maria era o carinho da mão de Dona Antônia e os passos que eles ouviam no quarto era ela que entrava no quarto para observar as crianças. Todos riram muito e aquele acontecimento virou uma história que era rememorada todas as sextas-feiras de inverno, junto à fogueira, por muitos anos e com muitas gargalhadas.

Jéssica Kelly – 8ª Série.

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