Os mitos sobre o espelho
A noção de narcisismo, por ser tratada com frequência tanto pelas ciências humanas como pelas formas estéticas de expressão do humano
O mito conta a história de Narciso, filho do rio Cefiso e da Ninfa Liríope, cuja beleza era inigualável e por isso, era amado e desejado pelas deusas, ninfas e jovens gregas. Preocupada com o destino de seu belo filho, Liríope vai consultar Tirésias - um famoso profeta. Este lhe responde que Narciso viveria muitos anos contanto que não se visse. Porém, por ter rejeitado o amor da Ninfa Eco – que se transformou numa pedra de tanta tristeza -, Nêmesis condenou Narciso a amar um amor impossível. Narciso, insensível às demonstrações de afeto, apaixonou-se perdidamente por seu reflexo na superfície da fonte de Téspias e de lá não conseguiu mais se afastar, ignorando fome e sede. No lugar de seu corpo foi encontrada uma flor amarela, o narciso.
No mito, a história de Narciso começa marcada pelo excesso. Sua beleza desmedida, fora do comum, coloca-o em perigo uma vez que, segundo as leis vigentes na cultura grega, a desmesura, o exagero – o hybris, ou seja, a ultrapassagem do metron –punha o mortal em risco perante os deuses. Isso faz sua mãe, Liríope, procurar Tirésias para saber sobre o destino de seu filho. O cego vidente profetiza que ele viveria longos anos, desde que não se conhecesse (visse) (Brandão, 1987).
Há muitas coisas peculiares sobre espelhos.
Eles nos dão a oportunidade de "ver a nós mesmos como os outros nos veem". Também servem para dar aquela ajeitada no visual e até para ensaiar um discurso importante. Uma família rica poderia mostrar sua prosperidade através de grandes espelhos venezianos - e temer pelo futuro se um deles se quebrasse.
1. Objetos de divinação
Na Grécia antiga, espelhos "mágicos" eram usados pelas feiticeiras da Tessália, no século 3 antes de Cristo. Essas sacerdotisas escreviam suas predições com sangue. Espelhos também eram usados pelos specularii, uma ordem de sacerdotes da Roma clássica que alegava poder ver o passado, o presente e o futuro nestes objetos. Esta tradição - usar espelhos para fins mágicos - é conhecida pelo nome de "catoptromancia" ou "captromancia". A palavra veio do termo grego para designar o espelho, katoptron. A prática não era exclusiva de gregos e romanos, e aparece em vários momentos da história, em diferentes lugares do mundo.
2. Portal para outro mundo
O deus asteca Tezcatlipoca usava os espelhos como um atalho para o submundo. Hoje em dia, a maioria dos espelhos é feita usando alumínio em pó, mas os egípcios antigos produziam estes objetos com cobre polido. Para aquele povo africano, o cobre estava associado à deusa Hathor - a personificação feminina do disco solar. Hathor era a dona da beleza, do amor, do sexo e da magia. Os astecas faziam seus espelhos polindo a obsidiana - um tipo de "vidro" vulcânico natural. Eles acreditavam que os espelhos estavam ligados ao deus Tezcatlipoca, cujo nome significa "espelho fumegante". Tezcatlipoca era o senhor da noite, do tempo e da memória ancestral - e, para os astecas, usava os espelhos para fazer a travessia entre a Terra e o submundo.
3. Energia da Lua
E se o espelho pudesse mostrar a verdadeira natureza daquilo que está em frente a ele? Na China, acreditava-se que os espelhos poderiam concentrar e capturar a energia dos astros, principalmente a da Lua. Houve inclusive um imperador cuja chegada ao cargo era atribuída ao poder dos espelhos. Qin Shi Huang, primeiro imperador da dinastia Qin, alegava, no ano 25 depois de Cristo, possuir um espelho que lhe permitia ver as qualidades interiores das pessoas que olhassem para o objeto.
4. Espelho, espelho meu…
Outra crença frequente na antiguidade era a de que os espelhos tinham a capacidade de capturar e reter o que quer que eles refletissem, para uso posterior. Esta crença antiga pode estar na origem do espelho que aparece no conto da Branca de Neve. Acredita-se que a "verdadeira" Branca de Neve tenha sido uma baronesa da Baviera, o maior Estado alemão, do século 18. O pai desta baronesa teria se casado novamente no ano de 1743, e a madrasta de Branca de Neve tinha uma preferência por seus filhos de um relacionamento anterior. Do novo marido, ela ganhou um espelho de presente. O objeto era conhecido "espelho falante". Dizia-se que os espelhos produzidos no vilarejo de Lohr (hoje na Alemanha) tinham tamanha qualidade que sempre "diziam a verdade" - daí o nome. Na lenda, o "espelho falante" diz à madrasta que há, sim ,alguém mais bela que ela, Branca de Neve. O tal espelho não só existe de verdade, como pode ser visto até hoje, no museu Spessart, no castelo de Lohr.
5. Azar ou sorte
Há inúmeras superstições em torno dos espelhos. Por exemplo: sete anos de azar para quem quebrar um deles. Esta crendice nós devemos aos romanos. Eles acreditavam que vida se renovava em ciclos de sete anos - se você tivesse o azar de quebrar um espelho, sua alma ficaria presa entre os cacos e não seria liberada até a chegada do novo ciclo. Mas sempre há formas de enganar uma maldição: se todos os pedaços fossem enterrados no chão ou jogados nas corredeiras de um rio, o seu azar seria superado.
No Paquistão, por outro lado, quebrar um espelho ou outro vidro em casa é um bom presságio - a tradição diz que este tipo de acidente significa que o mal está deixando a sua morada e a boa sorte está chegando.
Alguns atores de teatro acreditam que terão má sorte se deixarem outra pessoa olhar no espelho acima de seus ombros, enquanto eles se arrumam para um espetáculo.
E espelhos no palco são terminantemente proibidos para muitos profissionais: há o medo de quebrá-los, amaldiçoando os atores e o próprio teatro onde a peça é encenada; sem falar na antiga crença de que espelhos são um portal para espíritos malignos.
De um ponto de vista mais prático, espelhos não são os melhores amigos de um cenógrafo - eles refletem luzes com facilidade, o que pode comprometer o trabalho dos melhores iluminadores. Sem falar que ninguém quer um ator cego pela luz cambaleando na beirada do palco.
6. Prisão de almas
Acreditava-se que espelhos poderiam 'reter' a alma do falecido. Na Inglaterra da era vitoriana, quando um morto era velado antes de ser levado ao cemitério, todos os espelhos da casa eram cobertos com tecidos - acreditava-se que a alma da pessoa morta poderia ficar presa nos espelhos. Essa prática não era adotada só na Grã-Bretanha, mas também na América do Norte, na China, na ilha de Madagascar, na região da Crimeia e em Mumbai (na Índia). O costume ainda é mantido por algumas famílias judaicas durante o "shiva", o luto de uma semana do judaísmo.
7. Bloody Mary
Já ouviu falar dessa brincadeira chamada Bloody Mary? Se você se assusta com facilidade, melhor nem tentar. Funciona melhor durante uma noite de tempestade. Consiste em apagar todas as luzes do quarto e ficar diante do espelho com uma vela acessa na mão. Você dirá ao espelho três vezes: "Bloody Mary!", "Bloody Mary!", "Bloody Mary!". Então, quando você menos esperar - ou melhor, quando seu corpo e sua psicologia decidirem te pregar essa peça - você verá a tal "Bloody Mary", ou "Maria Sangrenta", ao seu lado, no espelho. Ou pelo menos é isso que diz a lenda, que faz parte do folclore ligado ao Halloween nos países anglo-saxões.
8. Vampiros e espelhos
O espelho nunca mente... Algumas culturas acreditavam que os espelhos refletiam uma "natureza interior", ou a alma da pessoa. Esta crença antiga está na origem da lenda segundo a qual vampiros e outros demônios não têm reflexo no espelho - o que aconteceria pelo fato desses seres, mortos-vivos, não terem uma alma.
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/geral- 47397709#:~:text=Algumas%20culturas%20acreditavam%20que%20os,vivos%2C%20n%C3%A3o%20terem%20uma%20alma.
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